(*) Rodrigo Vargas – A cena se repete, com a mesma previsibilidade de uma tempestade anunciada: Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, entra em uma comissão no Senado para falar sobre o meio ambiente (tema no qual é uma referência mundial) — mas sai tendo que se defender de ataques pessoais, olhares enviesados e frases atravessadas. O que deveria ser uma troca respeitosa entre poderes se transforma num ringue onde a razão cede lugar ao ruído.
E não é um ruído qualquer: é o barulho ensurdecedor da falta de escuta.
Neste episódio recente, o que mais chocou não foram os posicionamentos divergentes — porque em uma democracia, a divergência é saudável. O que faltou ali foi o básico da boa comunicação: clareza nas intenções e, acima de tudo, disposição real para ouvir.
O que se viu foi o oposto disso. Senadores interrompendo, distorcendo, atacando — como se a ministra estivesse ali para ser vencida num debate, e não para construir pontes com argumentos, e trazer soluções para o povo.
No campo da comunicação interpessoal, sempre insisto em algo que venho defendendo em palestras e que desenvolvo com mais profundidade no e-book que lanço ainda neste semestre: a escuta ativa é a base de qualquer relação saudável — pessoal, profissional ou institucional.
E escutar, como explico, não é concordar com tudo, mas é demonstrar respeito pelo outro ao permitir que sua mensagem seja compreendida antes de ser julgada.
Quando a comunicação falha nos seus elementos mais essenciais — clareza, empatia, escuta ativa — a convivência degrada. E o resultado é o que vimos: gritos que abafam ideias, ataques que bloqueiam avanços, vaidades que barram o entendimento.
A clareza na comunicação institucional deveria ser um compromisso. Quando uma ministra fala, representa uma política pública, um esforço coletivo. Ao ser ignorada ou desrespeitada, o que se rejeita não é apenas sua figura — mas o conteúdo que ela traz. E é aí que mora o perigo: se não escutamos com atenção, corremos o risco de repetir os mesmos erros, inclusive com o meio ambiente, que tem urgência e não se impressiona com retórica.
A comunicação interpessoal, tão necessária no cotidiano de qualquer cidadão, mostra-se ainda mais crucial nos espaços de poder. Se lá em cima o exemplo é de ruído, como esperar diálogo verdadeiro cá embaixo, entre vizinhos, colegas, pais e filhos?
Escutar com atenção é um gesto de humildade. Falar com clareza é um sinal de respeito. E quando ambos coexistem, a comunicação deixa de ser apenas troca de palavras e se torna construção de entendimento.
Talvez, se alguns senadores tivessem se preocupado menos em vencer e mais em compreender, teriam aprendido algo com a ministra — e talvez ela também tivesse algo a aprender com eles.
(*) Rodrigo Vargas – Jornalista, Assessor de Comunicação, Palestrante e especialista em comunicação interpessoal. Autor do e-book “Comunicação para o Dia a Dia – Como se conectar melhor com os outros – e consigo mesmo”.