Ao ser questionado sobre a entrada da Venezuela no Brics, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deixou claro ser a favor da entrada do país no bloco e disse que as posições de Moscou “não coincidem com as do Brasil” em relação ao tema. O Brasil não quer a entrada do país vizinho no grupo.
País aspirante a integrar do Brics, a Venezuela ficou de fora da lista para se tornar parceiro do bloco econômico que tem Brasil, Rússia, Índia e China e África do Sul como países principais. A decisão coincidiu com o desejo do Brasil — a relação entre Maduro e Lula está estremecida desde a eleição presidencial venezuelana, em que o presidente foi declarado reeleito em um pleito com falta de transparência, amplamente rechaçado pela comunidade internacional.
“Nossas posições não correspondem com a do Brasil em relação à Venezuela. Eu falo sobre isso abertamente, nós falamos sobre isso por telefone com o presidente do Brasil, com quem eu tenho uma relação muito boa, eu considero isso uma relação amigável”, disse Putin, em referência a Lula.
O presidente russo disse também ter acatado o resultado das eleições na Venezuela e citou o caso de Juan Guaidó, opositor que reivindicou vitória em um pleito passado contra Nicolás Maduro.
“Eu lembro que um dia o líder da oposição [Guaidó], depois dos primeiros votos, foi a uma praça, olhou para cima e disse que, diante de Deus, considerava-se presidente. Engraçado, não é? Nós discutimos essa situação com a liderança dos EUA. Mas eles apoiavam, e ainda apoiam a oposição [na Venezuela]. No entanto, eles se mantiveram em silêncio. […] Mas não é assim que funciona. Existem certos procedimentos eleitorais.”
“Nós acreditamos que o presidente Maduro venceu a eleição, de forma honesta. Ele formou o governo, e nós desejamos sucesso ao governo dele e ao povo brasileiro. Mas nós acreditamos que o Brasil e a Venezuela, em uma discussão bilateral, resolverão suas relações diplomáticas”, completou.
Putin também comentou sua relação com o presidente Lula: “Eu conheço o presidente Lula como um homem muito honesto, e eu tenho certeza que ele, com essas posições, irá lidar com essa situação de maneira objetiva”.
O principal tema da cúpula de Kazan foi a entrada de novos países no bloco, na categoria recém-criada de “Estados parceiros”. Eles poderão participar dos encontros, mas não terão direito a votar temas caros ao bloco, por exemplo. O governo brasileiro fez pressão política para que Venezuela e Nicarágua não entrassem na lista. Não houve veto formal, mas segundo fontes ouvidas, “os russos sabem da irritação de Lula com o Maduro [devido às eleições]”.
A rusga com a Nicarágua ocorre após o ditador Daniel Ortega ter expulsado o embaixador brasileiro e passar a perseguir religiosos e opositores. Apesar de ter sido barrado pelo Brasil, Maduro apareceu na foto oficial. Ele viajou para Kazan e chegou na terça-feira (22), no segundo dia do evento. O presidente venezuelano defende a entrada do país no bloco, mas nem Putin defendeu a inclusão da Venezuela aos parceiros do Brics. (Foto: Divulgação/Kremlin)