A decisão do PT, de endossar um manifesto de movimentos sociais a respeito do corte de gastos estudado pelo governo federal, abriu um novo foco de tensão dentro do partido.
A movimentação da cúpula petista provocou forte incômodo na ala da sigla mais alinhada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que cobra compromisso com a agenda do governo.
O manifesto em questão foi assinado por diversos movimentos sociais que fazem parte da base histórica de Lula e do PT. Esse texto é guiado, em grande parte, por uma crítica ao mercado financeiro e setores da mídia, a quem é atribuída uma pressão para que os cortes avaliados pelo governo alcancem o âmbito social.
Além do PT, legendas como PDT, PSOL, PCdoB também assinam o documento. Todas fazem parte da base histórica de Lula.
“O poder financeiro, os mercados e seus porta-vozes na mídia agitam o fantasma de uma inexistente crise fiscal, quando o que estamos vivendo é a retomada dos fundamentos econômicos, destruídos pelo governo anterior”, afirma o texto. “Agora querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário-mínimo e sua vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da Saúde e da Educação”, afirma o texto.
Ontem, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, já havia se manifestado publicamente sobre o assunto. Ela foi às redes sociais para responder a editoriais publicados por grandes jornais sobre os cortes.
“Eles [os jornais] esperam impor ao governo e ao país o sacrifício dos aposentados, dos trabalhadores, da saúde e da educação, que podem até combinar com o neoliberalismo frenético do governo passado, mas não com o governo que foi eleito para reconstruir o país”, afirmou Gleisi.
Sobre a demora de Lula em anunciar os cortes, a presidente do PT disse que ele “age muito bem, com cautela e muita responsabilidade, resistindo às pressões descabidas dos mercados e de seus porta-vozes na mídia”.
Nos bastidores, a cúpula partidária diz não ver razão para a reação provocada pela assinatura do manifesto. Um argumento colocado é que muito do que consta no documento já havia sido pontuado em uma nota da executiva nacional da legenda, divulgada em junho passado. O comunicado em questão é intitulado “Em defesa da saúde, educação, previdência e assistência social; contra a especulação e os privilégios fiscais”. (Foto: PR / Divulgação)