Protecionismo de Trump provoca reações negativas em todo o mundo

Por Henrique Acker     –    Estão em vigor desde 1 de fevereiro as novas tarifas dos EUA sobre produtos importados do México (+25%), Canadá (+25% no geral e +10% sobre o petróleo e derivados) e da China (+10%), os três maiores parceiros comerciais do país. A medida foi anunciada pelo presidente Donald Trump, como parte de seu programa econômico protecionista.

A nova administração estadunidense está voltada a atingir inimigos e não deve poupar nem os aliados, com o objetivo de retomar a hegemonia dos EUA na economia mundial a qualquer custo. Mas as reações são todas desfavoráveis às medidas anunciadas pelo governo Donald Trump, a começar pelos governos do Canadá, México e da China.

 

UE será a próxima a ser atingida

Trump dá atenção especial à relação com a China, que acusa de exportar fentanil para os EUA. “Estão nos causando centenas de milhares de mortes”, disse Trump para justificar a nova taxação de produtos chineses.

Na última sexta-feira (24), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, apelou ao “diálogo” entre os dois países. “Guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores e não servem aos interesses de ninguém”, completou.

A próxima vítima das medidas protecionistas deverá ser a União Europeia (UE). Em resposta a repórteres, Trump afirmou que a relação da UE com os EUA é uma “atrocidade”, referindo-se ao déficit comercial de 300 bilhões de dólares de seu país.

Até agora, os dirigentes da UE não esboçaram qualquer reação e parecem estar mais preocupados com o perigo que enxergam na Rússia.

 

Inflação, recessão e especulação

O aumento dos preços dos importados pode provocar uma nova onda de inflação nos EUA, o que vai exigir uma intervenção do Banco Central na economia, mantendo ou elevando as atuais taxas de juros. Se isso ocorrer,o valor dos títulos da dívida pública dos EUA deve subir, atraindo investidores e tornando menos atrativos os mercados de outros países.

A outra consequência seria o aumento da inflação também nos parceiros comerciais dos EUA, o que deve provocar desvalorização das moedas em todo o mundo e provocar uma corrida dos investidores para o Bitcoin ou outros ativos mais seguros a médio e longo prazo.

As novas taxas de importação do governo Trump podem ter efeitos diretos e indiretos na economia dos países taxados e em nível global. Uma delas seria a recessão, com a redução da produção, fechamento de empresas e desemprego.

 

Reflexos nos EUA

Como maior mercado consumidor mundial, os EUA precisam abastecer cerca de 250 milhões de pessoas. Daí porque a taxação de produtos do México, Canadá e China deve impactar diretamente a mesa do cidadão estadunidense.

Entre janeiro e novembro do ano passado, os canadenses venderam 90 bilhões de dólares em petróleo para os americanos, e os mexicanos, mais 11 bilhões.

Em 2023, os Estados Unidos importaram mais de 45 bilhões de dólares em produtos agrícolas do México. Nesta conta, estão 63% dos vegetais e 47% das frutas consumidas no país. Os agricultores canadenses faturaram outros 40 bilhões de dólares exportando para os americanos.

A sobretaxa de 10% a produtos chineses impactará uma ampla variedade de bens de consumo, que abrange de roupas a brinquedos, passando por eletroeletrônicos e computadores.

 

Reações

Um porta-voz do governo chinês afirmou que as tarifas unilaterais “violam gravemente” as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). A China tenciona entrar com uma ação judicial junto à OMC, mantendo a porta aberta para negociações.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou no X que seu governo está trabalhando num “Plano B”, que envolve medidas tarifárias e não tarifárias, para defender os interesses do seu país. Sheinbaum cobrou uma posição do governo dos EUA, informando que em 2024 seu país apreendeu 40 mil toneladas de drogas variadas e 20 mil toneladas de fentanil, além de deter 10 mil traficantes.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que o país vai impor 25% sobre os bens dos EUA no valor de 155 mil milhões de dólares canadenses (102,8 bilhões de euros), desde álcool americano, produtos agrícolas, artigos de consumo diário e materiais. As taxas sobre bens no valor de 30 bilhões de dólares canadenses (19,9 bilhões de euros) entrarão em vigor na terça-feira, 4 de fevereiro.

 

Consequências

A política protecionista dos EUA deve causar reações no comércio em todos os cantos do planeta. Isso porque os EUA são fortes parceiros comerciais com praticamente todos os países, dividindo a posição de maiores mercados consumidores e exportadores com a UE e a China.

Medidas que causem queda da produção na China vão atingir os fornecedores de matérias-primas para aquele país, como o Brasil, que exporta minério de ferro e petróleo para aquele país. O mesmo pode ocorrer se os produtos da UE forem sobretaxados pelo governo dos EUA.

Outra tendência é a valorização do dólar a curto prazo, em função da instabilidade do “mercado”. Com isso, a exportação de produtos dos EUA ficará mais cara, o que pode dificultar a vida dos exportadores estadunidenses. O anunciado corte de impostos aos milionários também deve valorizar o dólar. Isso só beneficiará um pequeno grupo de privilegiados.

A tendência é que cresça o comércio entre os parceiros sobretaxados pelos EUA e outros países, de forma a manter e escoar a produção. Não se exclui a possibilidade da formação de novos acordos multilaterais e a formação e o fortalecimento das relações comerciais  entre os países dos atuais blocos econômicos, como o Mercosul ou o BRICS.

Mais do que nunca, se as medidas anunciadas por Donald Trump alcançarem seus objetivos, estará colocada no panorama internacional a necessidade de discutir e encontrar uma alternativa ao dólar como moeda de transações internacionais.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

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