As primeiras sondagens de boca de urna apontam que o SPD (Partido Social-Democrata), legenda do chanceler alemão Olaf Scholz, conseguiu uma recuperação surpreendente e barrou a vitória do AfD (Alternativa Para a Alemanha), legenda associada ao neonazismo, no estado de Brandemburgo, no leste da Alemanha.
A população de Brandemburgo foi às urnas neste domingo (22) para a eleição regional que definirá seu parlamento estadual e ministro-presidente (equivalente ao cargo de governador). Segundo projeção divulgada às 18h pelo horário local, o SPD, de centro-esquerda, obteve 32% dos votos, superando os 29% do AfD.
Ao longo da campanha, o partido de extrema direita despontava à frente nas pesquisas, mas a legenda governista apresentou forte crescimento nas sondagens feitas às vésperas do pleito.
As mesmas sondagens de boca de urna apontam, ainda, que novo partido da esquerda Sahra Wagenknecht (BSW) obteve 12%, mesmo índice conquistado pela União Democrata Cristã (CDU), sigla da ex-chanceler Angela Merkel. Já o partido Os Verdes (Die Grüne) deve registrar 5%, enquanto o A Esquerda (Die Linke) deve obter entre 3% e 4% dos votos.
Desde 2013 o estado de Brandemburgo é governado por Dietmar Woidke (foto), do SPD, que concorre à reeleição. Woidke, nas últimas semanas de campanha, tentou desassociar sua imagem a do chanceler e seu correligionário Olaf Scholz, que vive uma crise de popularidade – fator que pode explicar sua subida abrupta nas últimas pesquisas e nas primeiras sondagens de boca de urna.
Em entrevistas recentes, Woidke partiu para o tudo ou nada: afirmou que, se o SPD não vencer, abandonará o posto de líder do partido no estado e renunciará a sua cadeira no parlamento. O político social-democrata, entretanto, tem se mostrado otimista diante dos últimos levantamentos de intenções de voto.
“Estou firmemente convencido de que conseguiremos”, disse Woidke na sexta-feira (20).
Caso as projeções se confirmem, Woidke governará por mais um mandato o estado de Brandemburgo e, para isso, deverá formar uma coalizão. As alianças mais prováveis são com o CDU ou com o BSW.
Temor com vitória do AfD
Um eventual triunfo do AfD em Brandemburgo vinha intensificando os sinais alerta, já que seria o segundo do partido em menos de um mês. Em 1º de setembro, a sigla obteve uma vitória assustadoramente histórica na Turíngia – trata-se da primeira vez que uma legenda de extrema direita vence um pleito estadual desde o regime nazista. Além disso, o AfD conquistou, no mesmo dia, a segunda maior bancada no parlamento da Saxônia.
Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país. A principal plataforma política da sigla está no discurso anti-imigração, especialmente contra muçulmanos, com a defesa explícita da expulsão em massa desses imigrantes da Alemanha – política perversa conhecida como “remigração”.
Em Brandemburgo, o nome do AfD que concorre ao governo do estado é o de Hans-Christoph Berndt. O político mantém ligações claras com grupos de extrema direita e neonazistas. Entre eles o Identitäre Bewegung, a agência Ein Prozent e a revista Compact, todas classificadas pelo serviço de inteligência alemão como organizações extremistas. Esses grupos são conhecidos por promoverem ideias ultranacionalistas, xenofóbicas e, em muitos casos, racistas, com Identitäre Bewegung frequentemente associada a ideais que ecoam o nazismo.
Berndt defende abertamente essas conexões, afirmando que elas são parte essencial de sua visão para o futuro da Alemanha. Ele não só se recusa a se distanciar desses grupos, mas também os apresenta como parceiros no que chama de “luta pela Alemanha”. Entre suas principais propostas estão o combate à imigração e a promoção de um “Pacto para Remigração”, com a ideia de deportações em massa e a criação de centros de asilo fora da Europa. Ele também se opõe fortemente à transição energética, prometendo eliminar o uso de energias renováveis como eólica e solar. Entre outras promessas, estão as de desmantelar políticas de diversidade e tolerância.
Ainda que o AfD vencesse a eleição, seria praticamente impossível que conseguisse governar Brandemburgo. Isso porque na Alemanha o sistema político é parlamentarista. Isto é: para formar um governo, o partido ou coalizão precisa conquistar maioria absoluta dos assentos no parlamento estadual para governar. E ninguém quer se coligar com os extremistas do AfD – mesma situação observada na Turíngia. (Foto: Divulgação/Instagram Dietmar Woidke)