Primeira menstruação é tema de filme inteiramente falado em guarani

Um curta-metragem totalmente falado no idioma guarani, Um Tempo para Mim, está participando da Competição Latino-Americana 2023 – Mostra Ecofalante, em São Paulo, e será exibido na mostra competitiva do Festival Guarnicê de Cinema, em São Luís, no próximo dia 14.

Dirigido e produzido por Paola Mallmann, o filme foi rodado na comunidade indígena Koenju, de São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul.

O curta foi realizado por meio do Edital Audiovisual entre Fronteiras, promovido pelo Instituto Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul, em parceria com o Instituto de Artes Audiovisuais do Governo da Província de Misiones, Argentina, que pedia temas relacionados às fronteiras dos dois países, onde a cultura guarani é muito presente.

Em entrevista à imprensa em São Paulo, nestesábado, 10. Paola Mallmann disse que se baseou em uma temática que vem ganhando visibilidade e que, durante muito tempo, ficou cercada de tabus e silenciada, porque abordava a menstruação, a saúde e o ciclo reprodutivo feminino, fase que se inicia com a menarca, nome científico dado à primeira menstruação.

Em 2019, Paola participou de uma formação sobre educação menstrual com a pesquisadora colombiana Carolina Ramirez, que abordava a temática da primeira menstruação e dos cuidados com o corpo nas escolas.

“Eu já vinha de pesquisa e engajamento com comunidades indígenas, em especial guaranis, e conhecia um pouco também relatos das mulheres guaranis sobre os cuidados com o corpo e práticas sociais nesse momento da vida”. Paola decidiu, então, que este seria o tema central de seu curta, a partir do contexto da cultura guarani, “com o propósito de trazer luz sobre esse tema que é sensível e, também, bastante político”.

 

Elenco 

O elenco do filme, com atores que não são profissionais, é liderado pelas jovens guaranis Juliana Almeida Timoteo e Clarice de Oliveira.

“Eu escolhi realizar este curta a partir da comunidade Tekoa Koenju, de São Miguel das Missões, onde existe a presença bastante forte de realizadores indígenas do audiovisual. A proposta foi fazer com essa comunidade, que está mais próxima da fronteira”.

A assistente de direção foi a indígena Luz Duarte,que foi muito importante porque o curta foi rodado na língua guarani. “A presença dela foi fundamental para isso acontecer”, disse Paola, que teve colaboração de outros realizadores indígenas no roteiro e na escolha do elenco.

Com produção executiva de Beto Rodrigues, o curta conquistou o Kikito de melhor trilha musical na categoria de curtas-metragens brasileiros, na última edição do Festival de Gramado, em 2022, e venceu ainda o prêmio de melhor direção no 16º Curta Taquary, em Pernambuco, este ano.

O filme tem 21 minutos de duração e é assinado pela Opará Cultural e Galo de Briga Filmes.

Segundo a diretora do filme, o mais impactante no trabalho foi a participação das meninas Juliana e Clarice, as protagonistas. Paola levou as duas para a primeira exibição do filme, no Festival de Gramado, depois de verem na escola, na aldeia, logo que o curta ficou pronto.

“Foi muito emocionante. Elas se apropriando também do tema, falando sobre a experiência de estar atuando no cinema, no audiovisual. E o curta cumpriu muito o papel de promover esse debate, entre elas, principalmente, porque é um tema mais velado, e a discussão trouxe empoderamento para elas”. (Foto Ana Luiza da Silva/ Divulgação)

 

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