Pressionado, Trump anuncia pausa na cobrança de taxas e mira na China

Por Henrique Acker   –    Horas depois da entrada em vigor das novas taxas de importação de produtos, impostas pelos EUA a 80 países, Donald Trump anunciou uma pausa de 90 dias, com taxas de 10% a todas as nações que não anunciaram medidas de retaliação à iniciativa de seu governo.

Em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump justificou o recuo reconhecendo que “as pessoas estavam ficando nervosas”. O único a ser atingido pelas tarifas já anunciadas é a China, agora com taxas de 125% sobre seus produtos no mercado estadunidense. Pequim respondeu com uma taxa de importação de 84% sobre os importados dos EUA.

 

“Pessoas nervosas”

Em Nova York, as bolsas reagiram positivamente. O S&P 500 encerrou em forte alta de 9,52%, a maior desde 2008. Já o Nasdaq saltou 12,16%, a maior alta em 24 anos, enquanto o Dow Jones ganhou 7,87%. De acordo com especialistas do sistema financeiro, o valor de mercado das empresas listadas na Bolsa de Nova York saltou US$ 4,79 trilhões.

Alguns analistas ressaltam que Trump vinha sendo pressionado por empresários e investidores a voltar atrás nas tarifas. Ontem mesmo (9/4/25), data da entrada em vigor das novas taxas, houve uma venda expressiva de títulos do Tesouro americano. Talvez isso explique o recuo de Trump, já no início da tarde.

“Eu fiz uma pausa de 90 dias para as pessoas que não retaliaram, porque avisamos: ‘Se você retaliar, nós dobramos’”, explicou o presidente dos EUA. “E foi isso que fiz com a China, porque retaliaram, por isso vamos ver como tudo se desenrola. Acho que vai correr muito bem.”

 

Incerteza no mercado financeiro

Para se ter uma ideia da incerteza que tomou conta do sistema financeiro, o banco Goldman Sachs, que pouco antes do anúncio de Trump havia publicado um relatório estimando uma recessão de 65%, revisou seu alerta e retirou a previsão do ar.

Diane Swonk, economista-chefe da KPMG, não escondeu o descontentamento com o estilo Trump de governar. “Isso é uma loucura. O estrago está feito. O alívio do mercado é uma falsa sensação, a menos que o governo faça uma correção de rota significativa”, disse Swonk ao New York Times.

Ray Dalio, investidor e especialista em mercado financeiro, alertou em publicação no X que os problemas não se resumem às tarifas. “Estamos testemunhando a quebra das ordens monetária, política e geopolítica, e isso ocorre uma vez por geração, sempre que as condições se tornam insustentáveis”, afirmou.

 

Comércio de grandes proporções

A China envia de tudo para os EUA: de iPhones a computadores e brinquedos. O país é responsável por cerca de 14% das importações estadunidenses. Foram US$ 585 bilhões em 2024. Os EUA importaram da China (US$ 440 bilhões), enquanto os chineses importaram dos americanos (US$ 145 bilhões). Os EUA vendem soja, petróleo e produtos farmacêuticos para a China.

Atualmente, a China produz 60% dos carros elétricos do mundo, em grande parte fabricados por marcas chinesas. Além disso, o país asiático abastece o mercado global com 80% das baterias que alimentam os veículos movidos à energia elétrica.

Mais do que relações comerciais de grandes proporções, o que está em jogo nessa queda de braço são dois projetos. De um lado, os EUA, com uma economia baseada em holdings e na especulação financeira, que ainda mantêm a hegemonia militar e política mundial, apesar de perder força econômica; de outro, o projeto chinês, em expansão, que pretende ampliar ainda mais a produção e comercialização de seus produtos e investimentos mundo afora.

 

Incendiário e bombeiro

Em questão de horas, Trump passou de incendiário a bombeiro: “Temos de ser flexíveis… temos de ser capazes de mostrar alguma flexibilidade, e eu sou capaz de o fazer”, declarou aos repórteres.

A União Europeia, que havia anunciado na manhã de 9 de abril um pacote de tarifas de 25% sobre 99 produtos estadunidenses, como resposta às taxas de Trump a produtos europeus, acabou por suspender a aplicação da medida à noite.

Líderes europeus assumiram um discurso moderado, aparentemente apostando num acordo que minimize os estragos causados pelo aumento das taxas de importação dos EUA. A presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, congratulou-se com Trump e anunciou que Bruxelas “continua empenhada em negociações construtivas” com Washington. (Foto: Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

……………………………….

Fontes:

AQUI     AQUI     AQUI     AQUI

Relacionados

plugins premium WordPress