Lula na fogueira da União Europeia

Por Henrique Acker   –   A mídia portuguesa e de outros países da União Europeia acendeu a fogueira da Santa Inquisição. O herege da vez é Lula, criticado de forma implacável por ter fugido do senso comum das lideranças europeias, que diariamente sopram as brasas da guerra da Ucrânia.

Lula só disse o que todo mundo já sabe: os EUA e a União Europeia atuam para prolongar a guerra.

Em momento algum o Presidente do Brasil elogiou o governo Putin, muito menos a invasão da Ucrânia. Mas bastou não se alinhar com os dirigentes da UE para ser tratado como aliado dos chineses e russos.

Esquecem ou omitem os analistas de plantão a entrevista à CNN Brasil (16 de fevereiro/2023), quando Lula classificou de “erro histórico a Rússia invadir a Ucrânia”.

Na mesma entrevista Lula afirmou que disse a Olaf Scholz, a Macron, a Biden e que diria a Xi Jinping: “Nós precisamos criar um grupo de países que estejam com a disposição de discutir a paz”.

Na China Lula ousou afirmar que “é preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”.

E criticou a atual postura da União Europeia: “A UE, que sempre jogou um papel importante como um ponto de equilíbrio e nunca participava diretamente dos conflitos, agora entrou diretamente no conflito”. E arrematou: “O Brasil não quer entrar na guerra, o Brasil quer paz”.

A “democracia” e a “liberdade”, que vivem nas bocas dos representantes da UE e dos líderes ocidentais, são pisadas todos os dias na Europa.

O regime de Macron, na França, impõe uma reforma previdenciária na base do decreto presidencial, e ainda coloca a polícia de choque para espancar e prender manifestantes.

O senhor Scholz se cala diante das denúncias gravíssimas de sabotagem dos gasodutos Nord Stream, por parte do governo Biden.

O governo dos EUA espiona até mesmo seus aliados, como ficou evidente nos documentos secretos revelados recentemente pelas redes sociais.

A senhora Meloni baixa uma medida restritiva, para agilizar a deportação de imigrantes que chegam à costa italiana.

Já a liberdade é coisa do passado.

Hoje, em nenhum país da Europa é possível acessar os canais de televisão russos, acusados de veicular propaganda do governo Putin.

Ora, o que assistimos todos os dias nas TV europeias senão propaganda da OTAN?

Em outras épocas, em plena Guerra Fria, a ONU era o palco de acirrados debates que dividiam as lideranças em visões diferenciadas de Mundo.

No entanto, havia um grupo de países “não alinhados”, fundamental para equilibrar o jogo de pressões de lado a lado.

Em pleno século XXI a Europa é palco de uma guerra, que esconde a disputa geopolítica entre dois modelos de capitalismo: um baseado na especulação e na financeirização, outro na produção em larga escala e na exploração intensiva de mão de obra.

Não há nos dois lados qualquer preocupação com os destinos da humanidade, muito menos com o povo ucraniano.

Para a camada de novos ricos que cercam o regime russo, os dirigentes do PC da China, os magnatas da industria armamentista dos EUA, a OTAN e os dirigentes da União Europeia pouco importam as consequências desta guerra para os europeus e outros povos do Mundo, incluindo a alta do custo de vida.

Por isso, Lula está sendo achincalhado e sua proposta de busca da paz vista com reservas, tanto por Putin quanto por Biden e as figuras patéticas que comandam a União Europeia.

Pode parecer absurdo, mas falar de paz no Mundo de hoje tornou-se uma heresia. (Foto: Evgeniy Maloletka/AP)

 

Por Henrique Acker – correspondente internacional

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