Sessão teve repreensão à extrema-direita e canto revolucionário
Por Henrique Acker – Com a presença das bancadas de todos os partidos políticos, inclusive o da extrema-direita, a Assembleia da República portuguesa realizou na manha desta terça-feira, 25 de abril, sessão solene em homenagem ao Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
Do lado de fora, sob vigilância da polícia portuguesa, grades de isolamento dividiam grupos de apoio e de repúdio à presença do Presidente brasileiro. No plenário usaram da palavra apenas o Presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, e o próprio Lula.
União dos povos de língua portuguesa
Santos Silva saudou a atitude de Lula pela defesa das instituições democráticas brasileiras. Ao mesmo tempo salientou que a Assembleia exorta os dois países a trabalharem mais e melhor por um mundo seguro e sustentável, multipolar, governado por instituições comprometidas com a paz, desenvolvimento econômico e os direitos humanos.
Sobre a guerra da Ucrânia, Santos Silva reafirmou a posição já externada pelo governo português. “Condenamos o agressor, estamos solidários com o agredido, apoiamos a Ucrânia pela defesa da sua independência, e defendemos a paz, desde que o agressor cesse os ataques e retire-se da Ucrânia”.
O Presidente da Assembleia ainda destacou a importância do acordo entre União Europeia e Mercosul, pelo seu alcance econômico e geopolítico. Na cultura, Santos Silva ressaltou a língua como elo mais forte de ligação dos países da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa, traçando um paralelo entre as obras de Fernando Pessoa e Clarice Lispector, “ao mesmo tempo criadores e personagens de seus livros”.
Ucrânia, paz e o Conselho de Segurança da ONU
Lula aproveitou a data para destacar que o Movimento dos Capitães de Abril, em Portugal, deu origem à conquista da liberdade e de uma vibrante democracia. O Presidente brasileiro lembrou que enquanto Portugal se libertava e punha um fim ao colonialismo, em 1974 o Brasil ainda enfrentava sequestros e assassinatos de operários, jornalistas e democratas.
“Vi e vivi no Brasil a consequência trágica da negação da política”, disse Lula, lembrando que metade das 700 mil mortes na pandemia poderiam ter sido evitada, não fosse a ação nefasta da extrema-direita.
Mais uma vez o Presidente brasileiro deixou claro que seu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia. Ao mesmo tempo, defendeu que é preciso falar em paz e trilhar o caminho da diplomacia para se encontrar uma solução para o conflito, para evitar mais destruição e mortes.
Para Lula, as ferramentas da governança global tornaram-se inadequadas à realidade. E fez questão de mirar no Conselho de Segurança da ONU, cuja composição de décadas passadas “não representa a atual correlação de forças no Mundo”. Ao final, Lula saudou as relações entre Brasil e Portugal.
Repreensão à extrema-direita
O clima de disputa política acabou prevalecendo dentro do plenário da Assembleia da República. Os deputados do Chega, partido de extrema-direita, levantaram cartazes e bateram com as mãos nas bancadas por diversas vezes, para condenar a presença de Lula.
Diante da atitude desrespeitosa, o Presidente da Assembleia tomou a palavra. “Os deputados que querem permanecer na sala têm de se comportar com urbanidade, cortesia e a educação exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal”, bradou Santos Silva.
A sessão foi encerrada com a execução dos dois hinos nacionais. Logo depois, os parlamentares de esquerda e centro-esquerda entoaram de improviso “Grândola Vila Morena”, música de Zeca Afonso que simboliza a Revolução do 25 de Abril. (Fotos: Henrique Acker)
Com informação de Henrique Acker, correspondente na Europa do Opinião em Pauta