Presidente do BC é cobrado por juros altos e recebe “pedido de demissão” no Senado

Roberto Campos Neto justificou atual patamar da Selic em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos

 

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, foi cobrado sobre uma eventual redução da taxa básica de juros do País, a Selic, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça-feira (25). A taxa está desde agosto de 2022 em 13,75% ao ano, uma das mais altas do mundo, e tem sido criticado frequentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pois, segundo ele, os juros altos atrapalham a retomada do crescimento econômico do País.

No Senado, diferentes membros da CAE pediram uma redução da Selic. Reforçaram os efeitos danosos dessa alta taxa sobre indicadores econômicos, como o desemprego, por exemplo. Campos Neto chegou, inclusive,  a ouvir uma sugestão para que renunciasse a seu cargo. “O senhor fez manifestações públicas em defesa do presidente Bolsonaro. Pegue o seu bonezinho e peça para sair”,  disse o senador Cid Gomes (PDT-CE).

Em fala de quase 20 minutos, o senador cearense argumentou que a Selic em 13,75% tem efeitos negativos para a dívida pública. Ele comparou alguns dos indicadores da economia do Brasil e dos Estados Unidos. Lembrou que lá a inflação fechou 2022 mais alta que no Brasil. Ainda assim, os juros básicos da economia brasileira são o triplo dos estadunidenses. O percentual de trabalhadores desempregados aqui é três vezes maior que nos EUA.

 

Justificativa

Campos Neto, por sua vez, defendeu a condução da política monetária e afirmou que a atual gestão da autarquia tem atuado de forma técnica e livre de orientações políticas. “A economia virou futebol, é natural que as pessoas tenham anseio por juros menores, acho que o presidente tem direito de falar sobre juros. Agora, o Banco Central não é culpado pelas mazelas no Brasil”, disse.

O chefe do BC disse que deseja que a taxa seja mais baixa e que vem trabalhando por isso. Ele ressaltou que, por lei, o BC tem que perseguir uma meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Explicou que os juros estão no patamar atual justamente para controle do aumento de preços.

Segundo Campos Netto, se o BC não tivesse elevado os juros como fez em 2022, a inflação poderia ter fechado o ano passado em cerca de 10%. Isso forçaria o BC a aumentar a taxa básica de juros para mais de 18% neste ano para controlar a alta dos preços. “Eu sei o custo da inflação para os mais pobres e muitos estudos mostram a perda de capacidade de compra da população”, respondeu Campos Neto a colocação do senador Fabiano Contarato. “A inflação é o imposto mais perverso que existe, prejudicando os pobres.” (Foto: Fernando Donasci/OGlobo)

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