Portugal terá o prêmio Marielle Franco contra racismo e xenofobia

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, e a primeira dama, Janja, reuniram-se nesta segunda-feira (24) com um grupo de brasileiras que moram em Portugal, que relataram casos de racismo e xenofobia no país europeu.

 

 

O Observatório do Racismo e Xenofobia de Portugal anunciou nesta segunda-feira (24) que vai criar o Prêmio Marielle Franco para a investigação de casos de racismo e xenofobia no País europeu. O acordo foi firmado em reunião entre a irmã de Marielle e atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com integrantes do Observatório da Universidade Nova de Lisboa.

A ministra integra a comitiva oficial do Governo brasileiro na visita de Estado de quatro dias a Portugal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que terminará nesta terça-feira (25). Durante o seu encontro com o observatório, Anielle disse estar se sentindo “honrada com o prêmio”.

“O Brasil é referência mundial na produção de políticas públicas de igualdade racial, e passa por um momento de avanço com a criação do nosso ministério. Podemos contribuir com Portugal para uma formulação de diagnóstico e no consequente avanço dessas políticas. A parceria com o Observatório é o primeiro passo para isso”, disse Anielle.

O governo brasileiro e o Observatório se comprometeram a atuar mais fortemente, e com maior cooperação, no combate aos casos de xenofobia e racismo. Pela manhã, Anielle reuniu-se com o Comitê Popular de Mulheres Brasileiras em Portugal, ao lado da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, onde ouviu das imigrantes casos de discriminação, falta de dados sobre o problema e falta de canais de denúncia.

Ambas destacaram durante o encontro a necessidade de produção de dados sobre a população negra de Portugal, que inclui migrantes brasileiros e africanos. Uma das medidas seria a inclusão desse recorte no Censo português. Anielle ressaltou que ainda não há um canal de denúncias para casos de racismo e xenofobia contra brasileiros, e que essa será uma das iniciativas trabalhadas com o governo de Portugal.

“O que as mulheres relataram é que tem várias situações de vulnerabilidade, muitas, e que muitas vezes elas não conseguem chegar até eles. Então, acho que essa troca, seja a partir do comitê, dessa abertura de diálogo, vai ser fundamental, e nisso a gente conseguiu ajudar hoje”, frisou a ministra na coletiva de imprensa após a reunião com as mulheres brasileiras.

A ministra destacou ainda que a primeira-dama recebeu o pedido das integrantes do Comitê no dia anterior, e o acatou prontamente. “Eu sempre defendo muito a postura da Janja, porque eu acho que ela ressignifica esse lugar de primeira-dama. Ela nem gosta de ser chamada de primeira-dama, mas eu senti isso muito na campanha de 2022, onde muitas vezes nós estávamos juntas e também do ‘buscar e falar’, concluiu Anielle.

 

A vereadora Marielle Franco foi brutalmente assassinada em 14 de março de 2018. Até hoje, não são conhecidos os  mandantes e as motivações do assassinato. (Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo)

 

Marielle

Marielle Franco era vereadora pelo PSOL no Rio de Janeiro e tornou-se conhecida por sua luta incansável em defesa das minorias, especialmente as mulheres, negros, LGBTQIA+ e moradores de favelas. Seu mandato durou apenas 14 meses, quando foi brutalmente assassinada junto a seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. Seu curto mandato foi suficiente para um grande legado: além do recém-criado prêmio português, Marielle já foi homenageada das mais diversas formas. Mês passado, no dia que se completou cinco anos do seu assassinato, o presidente Lula apresentou o projeto de Lei que transforma o 14 de março no Dia Nacional Marielle Franco, com foco no enfrentamento à violência política de gênero e de raça.

No fim de fevereiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou a abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar o assassinato da vereadora e do seu motorista. Segundo o ministro, o objetivo é ampliar a colaboração federal na apuração do caso. A polícia chegou aos supostos executores do crime, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, que já são réus e aguardam julgamento por júri popular, mas os mandantes e as motivações ainda não foram descobertos. Flávio Dino descartou, pelo menos, por enquanto, a federalização do caso e chegou a dizer que esta é uma questão de honra para o Estado brasileiro. (Foto: Luna Costa/MIR)

 

Com colaboração de Henrique Acker, correspondente na Europa do Opinião em Pauta

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