Há de tudo um pouco nos planos do governo sionista de Israel. A única certeza é que os territórios palestinos não devem ser partes de um futuro Estado Palestino. Basta acompanhar as declarações e propostas da extrema-direita israelense, presentes no governo Netanyahu, quando se trata de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Ocidental.
Durante o seu discurso na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, duas semanas antes do 7 de outubro, Netanyahu brandiu um mapa do Oriente Médio mostrando um Grande Israel que incluía Gaza e Cisjordânia. O mapa da região apresentava Israel com um território do Rio Jordão até o Mar Mediterrâneo, sem incluir um Estado Palestino.
Até a construção de uma ilha artificial no Mediterrâneo para realojar a população de Gaza é aventada pelo governo de Benjamin Netanyahu. O projeto foi oficialmente apresentado pelo ministro dos negócios estrangeiros, Israel Katz, aos 27 países membros da União Europeia, em Bruxelas, em janeiro deste ano.
O que se sabe é que Israel pretende manter Gaza sob seu estrito controle político e militar, acabar de vez com a presença da UNRWA (agência da ONU para os refugiados palestinos) e pedir apoio a governos de países árabes contra a radicalização ao ensino nas escolas, mesquitas e na administração pública. É o que consta do “Dia seguinte”, plano de uma página defendido pelo governo Netanyahu.
Matança e terror em Gaza
Embora negue a intenção de incentivar a implantação de colônias judaicas após a eliminação do Hamas em Gaza – como faz amplamente na Cisjordânia ocupada – o governo israelense não admite que o futuro do território inclua sequer uma administração vinculada à Autoridade Palestina.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, até o final de fevereiro havia mais de 30 mil mortos e 70.400 feridos, em cinco meses de bombardeios. Cerca de 70% dos mortos são mulheres e crianças. Os dados foram reconhecidos pela ONU.
Mais de 46.000 unidades habitacionais foram destruídas e outras 234.000 danificadas desde 7 de outubro de 2023, representando 60% do total de moradias em Gaza, de acordo com dados de organizações de ajuda humanitária coletados até 24 de novembro.
No setor de educação e saúde os números são assustadores. Pelo menos 342 escolas foram danificadas, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), e 187 ataques aos serviços de saúde foram realizados, danificando 24 hospitais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Repressão generalizada na Cisjordânia
Na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Ocidental o clima de repressão e desrespeito ao povo palestino é generalizado. É o que consta do Relatório da Human Rights Watch (Observatório de Direitos Humanos) de 2024. Até o início do ano passado Israel mantinha 645 postos de controle fixos e patrulhas móveis para dificultar o trânsito de palestinos na região.
As autoridades israelenses também fornecem segurança, infraestruturas e serviços a mais de 710 mil colonos judeus na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. De acordo com o OCHA, as autoridades israelenses demoliram 1.004 casas e outras estruturas palestinas na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, em 2023, até 11 de dezembro, deslocando 1.870 pessoas, ultrapassando os números de 2022.
Durante o primeiro semestre de 2023, o governo de Israel aprovou a construção de 12.855 novas unidades habitacionais em assentamentos na Cisjordânia ocupada. Este é o número mais alto já registrado pelo grupo israelense Paz Agora, que monitora os planos desde 2012. A transferência de civis para um território ocupado constitui crime de guerra.
O governo israelense raramente responsabiliza as forças de segurança que usaram força excessiva ou colonos judeus que atacaram palestinos. Menos de 1% das queixas de abusos por parte das forças israelenses, apresentadas por palestinos, na Cisjordânia, entre 2017 e 2021, e 7% das queixas de violência dos colonos entre 2005 e 2022 chegaram a acusações formais.
Hoje, o número de comunidades de colonos judeus cresceu para mais de 300 na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, segundo Paz Agora. São 146 assentamentos e 154 postos avançados na região.
Assassinatos e prisões ilegais
A partir de 7 de outubro, a violência contra os palestinos na Cisjordânia aumentou consideravelmente. A ONG Paz Agora registrou o estabelecimento de seis novos assentamentos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental nos últimos cinco meses.
De acordo com a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, entre o início de 2023 e 12 de dezembro, as forças israelenses mataram 464 palestinos, incluindo 109 crianças, na Cisjordânia ocupada.
Segundo dados do Serviço Prisional Israelense, as autoridades do país mantinham, até 1 de dezembro do ano passado, 2.873 palestinos em detenção administrativa, sem acusação ou julgamento, com base apenas em “informações secretas”.
Extrema-direita sustenta Netanyahu
Hoje, o sionismo religioso é parte do espectro político do Estado de Israel. Esta situação é sustentada por partidos de extrema-direita, presentes no governo de coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Desde 7 de outubro o líder do partido Sionista Religioso, Bezalel Smotrich, defendeu a construção de mais assentamentos na Cisjordânia, referindo-se aos palestinos como “nazistas”. Em novembro, como ministro das Finanças, ele pediu a proibição da colheita de azeitonas pelos palestinos próximo aos assentamentos israelenses.
O Ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, vive no assentamento de Kiryat Arba e supervisiona a polícia doméstica de Israel, bem como a força de fronteira do país na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Ben-Gvir foi membro do movimento ultranacionalista Kach, fundado pelo rabino americano Meir Kahane, agora proibido. Ele já foi condenado por incitar o racismo e apoiar o terrorismo.
A aliança com a extrema-direita é vital para a sustentação política de Netanyahu no governo. Sem ela, o primeiro-ministro de Israel perderia o cargo e estaria mais vulnerável para enfrentar os tribunais, que o acusam de corrupção e desmandos.
Na imagem principal, um assentamento de colonos sionistas na Cisjordânia. (Fotos: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
Fontes:
https://www.hrw.org/pt/world-report/2024/country-chapters/israel-and-palestine
https://www.bbc.com/portuguese/articles/crgv792wdp1o