Plano para reeleger Lula mira em MDB e PSD para vice

Caio Junqueira  (Colunista CNN)  – Passadas as eleições no Brasil e nos Estados Unidos, o Palácio do Planalto começa a discutir um plano para a reeleição de Lula em 2026.

Nesse sentido, a primeira dúvida que permeia a equipe de Lula já foi resolvida: a candidatura do próprio presidente.

“Ele vai ser empurrado politicamente para ser candidato”, disse  nesta semana em Brasília um aliado muito próximo de Lula.

O debate entre ministros do governo hoje é mais sobre se ele gostaria de ser e menos do que se ele de fato será. A percepção é de que não haverá como ele não ser porque, se ele não for, a chance de derrota é ampliada.

E que ele mesmo já tem dito que é preciso que o governo comece a trabalhar visando a eleição presidencial de 2026.

A estratégia que começa a ser discutida se divide em dois eixos: política e economia.

 

Formação de alianças

Pela política, a ideia é promover uma mini-reforma ministerial casada com a eleição para as presidências da Câmara e do Senado em fevereiro que assegure não apenas a sustentabilidade política do governo na sua segunda metade, mas principalmente que amarre aliados para a campanha de 2026.

O governo trabalha com a possibilidade real de que o MDB possa compor formalmente a chapa com Lula.

Para a vice, são citados

 

  • o governador do Pará, Helder Barbalho;
  • a ministra do Planejamento, Simone Tebet;
  • e o ministro dos Transportes, Renan Filho.

 

O segundo partido que o governo considera como possível que entre na chapa é o PSD de Gilberto Kassab.

Além de ser o campeão de prefeituras nas eleições deste ano, a sigla daria a Lula palanques importantes no Sudeste para neutralizar São Paulo — são citados, por exemplo, Rodrigo Pacheco ou Alexandre Silveira, em Minas Gerais, e Eduardo Paes, no Rio de Janeiro –, além de outros estados-chave, como Bahia.

Os outros três partidos de centro e de direita que compõem o governo, União Brasil, PP e Republicanos, são vistos com baixíssima possibilidade de uma adesão formal na chapa da reeleição.

 

  • em relação ao União Brasil, a chance é baixa porque a sigla já conta com um pré-candidato (o governador de Goiás, Ronaldo Caiado);
  • o PP porque é muito ligado ao bolsonarismo;
  • e o Republicanos porque é o partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — que hoje é a maior liderança elegível da oposição.

 

Sem ter garantias de que eles entrarão na coalizão formal, o que se ventila no planalto é que eles pelo menos fiquem independentes em 2026 e não apoiem nenhum candidato, liberando palanques estaduais para Lula.

Mesa diretora

E para garantir que eles não se afastem do governo até lá, a ideia é amarrar a eleição da Mesa Diretora com uma agenda legislativa conjunta com o Planalto e mudanças pontuais no ministério.

Uma ideia que vem sendo aventada é oferecer uma pasta relevante a um deputado ligado ao grupo do hoje favorito para presidir a Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Na mesma linha, oferecer uma pasta a alguém ligado ao também favorito a presidir o Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Dessa forma, o raciocínio é “validar” o acordo político da eleição da Mesa e transformá-lo em um acordo de governabilidade para o segundo biênio do governo mirando a chapa em 2026.

O processo da mini-reforma, porém, ainda está embrionário, o que sugere que ele só deve ocorrer de fato após a eleição da Mesa. Ideias, porém, circulam, como entregar o Ministério da Saúde a Rodrigo Pacheco, abrir espaço para o Centrão em uma das vagas dentro do Palácio do Planalto e diminuir o espaço do PSB na Esplanada.

Um interlocutor do presidente disse  que Lula resiste a tirar Nísia por ser mulher e técnica. Mas a pasta continua sendo alvo de críticas, inclusive do próprio Lula. A leitura é de que ela trás muita agenda negativa, como falta de vacinas e de controle sobre doenças como a dengue.

Esse processo político viria casado com, finalmente, alguma melhoria na comunicação. A área continua sendo criticada por interlocutores de Lula, muito embora não se aposte na troca do ministro Paulo Pimenta.

O fracasso da licitação tocada por ele é apontada como um dos principais motivos da dificuldade de o governo dar um salto na área. Em especial porque o objetivo do certame era justamente promover uma grande mudança estratégica com foco na comunicação digital, a área em que a direita bolsonarista domina há dez anos.

Acertar a comunicação é vista como um passo concomitante a trabalhar marcas do governo para serem vendidas ao eleitor em 2026.

Hoje no palácio do Planalto a leitura é de que o governo Lula 3 revitalizou bandeiras antigas como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida que se tornaram políticas de estado e consequentemente o eleitor já não as identifica tanto com Lula como no passado.

De novo, há projetos considerados bem sucedidos e com potencial eleitoral, como Desenrola, Pé de Meia, Acredita e Gás para Todos, mas mal trabalhados em termos de comunicação.

É isso que se pretende corrigir nos próximos meses. E colocar o próprio Lula para vender mais esses projetos.

Situação econômica

Sem uma marca clara, a economia começa a ser desenvolvida como a possibilidade de ser a grande marca de Lula para 2026.

Esse entendimento ajuda a compreender porque a adesão ao pacote fiscal do ministro da Fazenda Fernando Haddad cresceu dentro do governo nas últimas semanas, sendo inclusive objeto de debate no grupo de WhatsApp de ministros correlacionando as medidas a eleição de 2026.

Ministros relataram ao longo da semana o incômodo do núcleo duro do governo com a explosão do dólar e como o câmbio da moeda foi um fator para convencer o presidente a abraçar a tese.

Além de terem apresentado a possibilidade de que, se controlado o lado fiscal, aumentam as chances de o país retomar o grau de investimento perdido por Dilma Rousseff e por consequência de isso ser apresentado como um ativo eleitoral em 2026.

A equação é a seguinte: expectativa é de que o pacote passe no Congresso e seja transformado em uma reversão de expectativas negativas quanto a responsabilidade fiscal e consequentemente ajude o governo a obter o grau de investimento.

Não foi algo fácil. Um ministro relatou a CNN que “se ele fosse por sua alma, Lula iria contra o pacote e partiria para o enfrentamento”. Mas como ministros abraçaram a tese, ela acabou prevalecendo.

Houve aí também um cálculo político. Ao sinalizar o ajuste, houve um claro aceno ao Congresso, majoritariamente à direita, ao centro político, que saiu vencedor da eleição municipal.

Tanto que a ideia do governo é manter no dois últimos anos de gestão a agenda econômica como prioritária. Essa estratégia é vista como uma forma de neutralizar a oposição bolsonarista, que aposta em agendas de costume para atacar o governo. Para o Planalto, 2025 será um ano de conclusão da reforma tributária e de aprovação de medidas econômicas como aas PECs do ajuste fiscal.

 

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