As autoridades brasileiras acreditam que Donald Trump, reeleito para um novo mandato em 2025, pode ser obrigado a ceder ainda mais em relação ao “tarifaço“, devido à intensificação da oposição dentro dos Estados Unidos.
Conforme conversas com representantes do governo Lula (PT), relatadas na coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, Trump já deu um indício inicial de recuo ao anunciar uma pausa de 90 dias nas negociações, diminuindo temporariamente as tarifas de importação para o mínimo de 10% em praticamente todas as situações. Para os ministros e autoridades que participam das discussões, essa ação indica que outras flexibilizações podem ser possíveis, até mesmo em relação à China, que é o principal foco das sanções, com uma sobretaxa que pode chegar a 125%.
“As divergências e interesses internos dos Estados Unidos podem tornar desafiadora, ou até inviável, a implementação das ações divulgadas por Trump“, destacou uma fonte que possui acesso direto às negociações com o presidente Lula, conforme relatado na matéria. Essa mesma fonte ainda mencionou que a iniciativa de estabelecer restrições comerciais tão abrangentes — afetando mais de 180 nações — encontra obstáculos na complexidade da economia global. “Implementar uma medida que, por sua vez, impacta o mundo inteiro é complicado”, comentou.
Com esse panorama, o Palácio do Planalto optou por proceder com prudência. Até o momento, o governo brasileiro não declarou nenhuma medida de resposta às tarifas implementadas por Washington. A abordagem consiste em observar os próximos acontecimentos, na esperança de que Trump não consiga manter todas as limitações.
Além da pressão exercida pela política, Trump tem lidado com uma forte resistência vinda do setor financeiro. Vários bilionários que estavam ao seu lado na campanha expressaram sua contrariedade ao aumento de tarifas. Um dos críticos mais destacados foi Bill Ackman, CEO da Pershing Square, que descreveu a medida como equivalente a uma “guerra nuclear”. Ele foi o responsável pela proposta de uma pausa de 90 dias, aceita pelo presidente dois dias após sua sugestão. Ackman fez um agradecimento público pela decisão, “em nome de todos os cidadãos americanos”.
O megainvestidor Stanley Druckenmiller manifestou sua oposição à proposta. Por outro lado, Elon Musk, proprietário da plataforma X (antigo Twitter), criticou Peter Navarro — conselheiro de Trump e defensor das tarifas — referindo–se a ele como “imbecil” e “mais tolo do que um saco de pedras”, após ser rebaixado a um mero montador de automóveis. Musk atua como conselheiro de Trump e também é o diretor do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), que tem como função reduzir os gastos do governo dos Estados Unidos.
A percepção popular também tem sido desfavorável. De acordo com uma pesquisa acompanhada pelo estatístico Nate Silver, três organizações de sondagem notaram uma diminuição na aceitação de Trump imediatamente após a divulgação do aumento das tarifas. Em média, 50,1% dos cidadãos americanos atualmente rejeitam sua administração, enquanto 46,3% a aprovam. (Foto: Reprodução)