Pioneiro da inteligência artificial se demite do Google e critica avanço tecnológico

Criador das redes neurais, sistemas que serviram de base para o desenvolvimento da inteligência artificial, Geoffrey Hilton se desligou do Google para poder criticar os avanços tecnológicos que ele mesmo ajudou a desenvolver.

Em entrevista ao jornal The New York Times, o cientista afirmou que quer “falar livremente sobre os riscos da IA, mesmo que este tenha sido o todo o trabalho de sua vida.

“Eu me consolo com a desculpa normal: se eu não tivesse feito isso, outra pessoa teria”, afirmou à publicação.

 

Décadas de pesquisa

Britânico radicado em Toronto, no Caraná, Hilton desenvolveu o conceito de redes neurais ainda em 1972. Naquela época, a descoberta era um sistema matemático capaz de aprender habilidades a partir da análise de dados.

O cientista continuou se dedicando às pesquisas de inteligência artificial, mas decidiu trocar a Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos e onde era professor de ciência da computação, pelo país vizinho. Hilton sempre foi contra o uso da tecnologia no campo de batalha e, na ocasião, o órgão interessado em financiar suas pesquisas era o Departamento de Defesa.

Já em 2012, Hilton e dois estudantes conseguiram avançar as pesquisas sobre IA, tanto que construíram uma rede neural capaz de analisar milhares de fotos e aprender a identificar objetos comuns.

Graças a esse avanço, vendido ao Google por US$ 44 milhões, foi possível desenvolver outras tecnologias, como o ChatGPT e o Google Bard, lançado pela big tech em março.

 

Futuro preocupante

Enquanto a indústria compara os sistemas de IA ao avanço que os navegadores de internet proporcionaram na década de 1990, Hilton está preocupado com o mau uso da inteligência artificial. “É difícil ver como você pode impedir que os maus atores o usem para coisas ruins.”

Entre os riscos para a humanidade, Hilton acredita que a internet pode ser inundada por conteúdos falsos, impossibilitando pessoas de distinguir o que é verdade ou não.

O avanço do IA nos últimos anos é tão significativo que pode ser capaz de condenar diversos profissionais ao desemprego, como assistentes pessoais e tradutores.

Hilton teme ainda que as futuras versões da IA sejam capazes de gerar os próprios códigos, tornando aqueles robôs assassinos de filmes de ficção uma realidade.

“A ideia de que essas coisas poderiam realmente ficar mais inteligentes do que as pessoas – algumas pessoas acreditaram nisso. Mas a maioria das pessoas achou que estava errado. E eu pensei que estava longe. Eu pensei que era de 30 a 50 anos ou até mais longe. Obviamente, não penso mais nisso”, disse.

 

Nova guerra fria

Defensor da regulamentação global do desenvolvimento da IA, o cientista não acredita que haverá bom senso entre a comunidade acadêmica e científica em interromper os avanços da tecnologia, especialmente as que não podem ser controladas, apesar dos apelos e alertas dos ex-líderes da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial.

Isso porque a Microsoft e o Google estão empenhados em aprimorar os mecanismos de buscas e a aplicação de IA em diversos novos produtos. “Os gigantes da tecnologia estão presos em uma competição que pode ser impossível de parar”, finalizou o cientista.

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