PF vai incluir confissão de Bolsonaro no inquérito sobre a minuta do golpe

Os milhares que compareceram à Avenida Paulista ouviram argumentos distorcidos e sermões religiosos em defesa do presidente que se posicionou como réu confesso, pedindo misericórdia. Para investigadores, ao se explicar sobre acusações, Bolsonaro admitiu ter tido acesso ao documento

 

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro fez um discurso acuado no domingo (25), durante o ato na Avenida Paulista, reconhecendo a existência da minuta do golpe, mas negando ter a intenção de promover um golpe. No entanto, para os investigadores da Polícia Federal (PF), essa fala do ex-presidente é a confirmação de seu conhecimento sobre um documento que sugere a tentativa de um golpe de Estado. A informação é da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

Esse documento, referido como “minuta do golpe”, propunha a instalação de um “Estado de Defesa” na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para interferir no resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-presidente argumentou em sua fala que a utilização de um decreto de estado de defesa, conforme descrito na minuta, não constituiria um golpe, pois se alinharia com a Constituição. Ele destacou que, para um estado de sítio, seria necessário o envolvimento dos conselhos da República e da Defesa, o que, segundo ele, não ocorreu.

Investigadores da Polícia Federal, que estavam presentes no evento, indicaram a colunista do Globo que a transcrição dessa declaração será incluída no inquérito que apura a tentativa de golpe. Nos dias que antecederam o ato, Bolsonaro foi aconselhado por seus advogados a evitar críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), às urnas eletrônicas e especialmente ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações contra ele. Vale lembrar Bolsonaro permaneceu em silêncio durante seu depoimento à Polícia Federal há quatro dias antes do ato, sobre seu envolvimento no planejamento de um golpe de Estado.

Anistia

“O que busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneira de viver em paz, não continuarmos sobressaltados”, disse Bolsonaro na manifestação. A partir deste argumento, ele também apontou para a multidão de mobilizados no domingo, considerando que as penas para golpistas não são razoáveis: “É por parte do parlamento brasileiro uma anistia para os pobres coitados que estão presos em Brasília”.

O ato se mostrou mais do mesmo que se esperava de uma reunião de políticos que argumentam em cima de falsificações dos atos e desinformação. Mas a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, qualificou a tarde de discursos confusos e ocos como mais uma prova para as investigações. “Pedir anistia é confissão de culpa. Bolsonaro é réu confesso. É o que faltava depois de tantas provas”, afirmou no X. Ela ainda desmascara que o pedido de anistia para os condenados não passa de defesa em seu próprio interesse. “Bolsonaro está mirando sua própria impunidade. É incapaz de defender interesses que não sejam os dele”.

Como disse a líder petista, no entanto, o discurso amaciado é incapaz de esconder “o prontuário antidemocrático, ditatorial e fascista de Jair Bolsonaro. Continua sendo e sempre será uma ameaça à democracia, ao estado de direito e à paz”. Para ela, o réu disse no palco o que silenciou para a Polícia Federal, já que em meio a seus asseclas sua versão fabulosa sobre o decreto de golpe não seria confrontada “com as provas da conspiração, que previa tropas na rua e prisão de ministros e adversários”.

(Foto: Nelson Almeida/AFPL)

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