PF tem vídeo de Bolsonaro e ministros com teor golpista: ‘Se tiver que virar a mesa é antes das eleições’

Polícia Federal apreendeu vídeo no computador de Mauro Cid de reunião de julho de 2022 em que Heleno fala em “agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”. Na conversa, ex-ministro Anderson Torres faz ilação de vínculo do PT com crime organizado e general Paulo Sergio ataca TSE

 

Um vídeo obtido pela Polícia Federal (PF) revela declarações golpistas do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, durante uma reunião ministerial realizada em julho de 2022. Durante o encontro, que contou com a presença de Bolsonaro, Heleno afirmou que, se necessário, era imperativo “virar a mesa” antes das eleições. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, declarou Augusto Heleno na ocasião.

O material foi apreendido em uma busca na casa do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente Mauro Cid. “As investigações da Polícia Federal trouxeram aos autos excertos da fala do então Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO naquela oportunidade e que constam de vídeo identificado em computador apreendido na residência de MAURO CESAR CID”, diz o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em sua decisão.

A PF deflagrou nesta quinta (8) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de Direito. Entre os alvos de mandados de medidas restritivas está o ex-presidente Jair Bolsonaro e os seus ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Casa Civil), que foi vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, o ex-ministro da Defesa, o general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, também são alvos. Já os mandados de prisão são contra dois ex-assessores de Bolsonaro, Marcelo Câmara e Filipe Martins. As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ocorrida em um contexto de forte ofensiva de Bolsonaro contra a lisura das urnas eletrônicas, a reunião da cúpula do governo contou com a presença, entre outros, de Augusto Heleno,  Anderson Torres e de Paulo Sergio Nogueira. “A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral”, escreveu Alexandre de Moraes em sua decisão.

De acordo com a transcrição do vídeo, Bolsonaro manifesta a seus ministros que estaria havendo uma armação para que Lula fosse eleito por meio de fraude eleitoral. Apesar do tom claramente golpista, em determinado momento Bolsonaro fala em não haver “providência de força”. “Não é dar tiro. Ô Paulo Sergio [ministro da Defesa], vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar? Não é isso, [palavrão]!”

Moraes relata em sua decisão que, em seguida, Bolsonaro deixa claro que seus ministros “deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público”.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres atendeu ao pedido do ex-presidente de reforçar os ataques à credibilidade do sistema eleitoral e diz que a Polícia Federal fez várias sugestões que nunca foram acatadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O outro lado joga muito pesado, senhores”, disse Torres sobre a Justiça Eleitoral. O ex-ministro também fez ilações, sem provas, de que o PT teria relações com uma facção criminosa, como aponta o relatório da PF. “Por fim, ANDERSON TORRES faz imputações graves, relacionando a facção criminosa PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL (PCC) ao Partido dos Trabalhadores (PT), afirmando que muita coisa estaria vindo à tona, inclusive com depoimentos. De forma enfática diz: “Isso não é mentira. Isso não é mentira.”. Por fim, o então Ministro da Justiça afirma que atuaria de forma mais incisiva, por meio da Polícia Federal”, diz a decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Próximo a falar, o ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira faz críticas ao TSE, diz que a comissão de transparência eleitoral montada com participação das Forças Armadas é apenas “para inglês ver”, e completa: “Pra encerrar… senhor Presidente, eu estou realizando reuniões com os Comandantes de Força quase que semanalmente. (…) Nós temos reuniões pela frente, decisivas para gente ver o que pode ser feito, que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha”, diz Paulo Sergio, de acordo com a transcrição, encerrando com os votos de que Bolsonaro seja reeleito. “Esse é o desejo de todos nós.”

Após Bolsonaro levantar a suspeita de que ministros do STF e TSE estivessem ganhando propina para fraudar as eleições, a palavra é dada a Augusto Heleno. “A existência do ilícito Núcleo de inteligência paralela também fica demonstrada nessa reunião, na fala do investigado Augusto Heleno”, prossegue Moraes em sua decisão.

Ele então relata que o então chefe do GSI falou ter tido conversa para a infiltração de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nas campanhas eleitorais, tendo sido interrompido por Bolsonaro no sentido de que o assunto fosse tratado posteriormente, à sós. Heleno, segundo a transcrição, prossegue, agora com uma fala claramente golpista: “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições.”

O então chefe do GSI conclui: “E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso para mim é muito claro”.

(Foto: Sérgio Lima/Poder360)

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