PF busca identificar destinatário de áudios de Cid enviados por WhatsApp

A Polícia Federal está analisando as gravações em que o tenente-coronel Mauro Cid critica a instituição e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo é identificar o destinatário do material, a fim de apurar se trata-se de algum investigado com quem o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está impedido de manter contato.

Os investigadores já reconheceram indícios de que são mensagens áudios enviadas por WhatsApp, e não uma conversa telefônica gravada ou uma escuta ambiental, por exemplo. Procurada, a defesa de Cid disse que não vai se manifestar.

Em depoimento na sexta-feira, no gabinete de Moraes, o oficial foi questionado com quem o diálogo teria ocorrido e respondeu que não se lembrava. Na audiência, o militar citou sete pessoas com quem vem mantendo contato e disse não ter relação com políticos ou com figuras do Judiciário e que não conversa com outros investigados.

Entre os investigados nos inquéritos que envolvem Cid, Bolsonaro e alguns de seus aliados, há o temor de que a suspeita recaia sobre eles. O ex-ajudante de ordens firmou acordo de delação premiada e forneceu informações sobre a tentativa de golpe de Estado, o caso das joias desviadas da Presidência e da suposta fraude no cartão de vacina. O STF agora reavalia se mantém a homologação da colaboração.

As gravações, em que Cid faz críticas à PF e ao Supremo Tribunal Federal (STF) na condução de seu acordo de delação premiada, vieram a público na quinta-feira após reportagem da revista “Veja”. Uma das hipóteses em avaliação pelos investigadores é se o próprio Cid teria repassado as gravações.

A utilização de rede social e a comunicação com outros alvos das investigações caracterizariam o descumprimento de medidas cautelares impostas por Moraes ao revogar a prisão preventiva de Cid, em setembro do ano passado.

Cid teve sua prisão novamente decretada por Moraes nesta sexta-feira, após participar de uma audiência na Corte. Na ocasião, ele foi confrontado com as declarações. Houve o entendimento de que o oficial, além de descumprir as cautelares, praticou o crime de obstrução à Justiça.

Nas mensagens divulgadas, Cid discorre sobre o trabalho dos investigadores e de Moraes, responsável por homologar o acordo de delação premiada assinado por ele. O tenente-coronel também afirma estar sendo vítima de uma “narrativa pronta”, em que não há interesse no esclarecimento dos fatos. “Eles queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, sustentou em uma das gravações.

Na audiência, Cid afirmou que não foi coagido e que a delação foi firmada de forma voluntária, reafirmando a intenção de colaborar. “Nunca houve induzimento às respostas. Nenhum

membro da Polícia Federal o coagiu a falar algo que não teria acontecido”, disse, segundo a transcrição que consta da ata do depoimento.

“Afirma não ter havido pressão do Judiciário ou da polícia. A decisão foi própria, de livre e espontânea vontade”, completou. Cid afirmou ainda que reconhece os áudios e que as falas foram proferidas em “conversa privada”.

Ao firmar a delação e ter a prisão revogada, Mauro Cid se comprometeu a manter:

 

  • Uso de tornozeleira eletrônica e proibição de ausentar-se da comarca, de sair de casa à noite e nos finais de semana;
  • Afastamento do exercício das funções de seu cargo de oficial no Exército;
  • Obrigação de apresentar-se semanalmente perante o Juízo da Execução da Comarca de origem;
  • Proibição de ausentar-se do país e cancelamento de todos os passaportes emitidos em nome do investigado;
  • Suspensão imediata de porte de arma de fogo, bem como de realizar atividades de colecionador, tiro desportivo e caça;
  • Proibição de utilização de redes sociais;
  • Proibição de comunicar-se com os demais investigados, com exceção de Gabriela Cid (esposa), Beatriz Cid (filha) e Mauro Lourena Cid (pai).  (Foto: Reprodução)

 

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