Os que desaprovam o trabalho do presidente somam 42%. Aprovação cai seis pontos percentuais em relação a pesquisa anterior, assim como a avaliação positiva do governo, que reduziu quatro pontos
Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (25) aponta queda de seis pontos na aprovação do trabalho que o presidente Lula (PT), em comparação com o levantamento realizado há dois meses, e ressalvas à postura do Brasil na guerra entre Israel e Hamas. Em agosto, a aprovação era de 60%. Neste mês, 54% dizem aprová-lo. Neste mesmo período, a desaprovação saiu de 35% para 42%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
A avaliação do governo como um todo também piorou: em agosto, 42% faziam uma avaliação positiva do governo. Agora, são 38%. Os que avaliam negativamente saíram de 24% para 29%. A pesquisa aponta ainda que 29% dos entrevistados consideram o governo regular, enquanto 4% não souberam ou não quiseram responder.
De acordo com o instituto, o maior recuo na aprovação do governo ocorreu na região Nordeste, onde 48% dos entrevistados afirmam aprovar o trabalho de Lula — eram 56% em agosto. Já o maior salto de avaliações negativas apareceu entre eleitores que declararam voto no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), grupo em que Lula vinha conseguindo mitigar sua reprovação nos últimos meses, segundo a Quaest. Na pesquisa deste mês, 60% dos eleitores bolsonaristas de 2022 classificaram o governo como negativo, mesmo patamar registrado em abril. Desde então, a reprovação de Lula neste eleitorado havia caído para 55% em junho, e depois para 51% em agosto.
“Uma das maneiras de entender se o crescimento da desaprovação está associado a um mal humor mais geral da população é avaliando se o país está indo na direção certa ou errada. De junho a outubro cresceu oito pontos o percentual de quem acha que o Brasil está indo na direção errada. O que pode estar produzindo isso? A primeira parte da explicação é econômica. Aumentou nove pontos o percentual de quem avalia que a economia piorou no último ano (saiu de 23% para 32%), enquanto se manteve o percentual de quem acha que melhorou (33%). Eleitores dos dois lados vivem realidades paralelas: 57% dos lulistas achando que a economia melhorou, 56% dos bolsonaristas achando que piorou. É o Brasil que, mesmo depois de um ano, continua polarizado. Essa piora na avaliação da economia se deveu a percepção da maioria que as contas de água, luz e telefone aumentaram no último mês, que o preço dos alimentos e dos combustíveis também subiu recentemente. Para completar o quadro, a expectativa sobre o futuro também deu uma piorada (caiu nove pontos que acha que vai melhorar), embora a maioria continue otimista (50%)”, explica o professor Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Guerra no Oriente Médio e viagens
O levantamento da Quaest também indicou que a guerra entre Israel e o Hamas, deflagrada no início deste mês, foi um dos assuntos que mais captou a atenção dos entrevistados no período recente: 90% afirmaram ter ficado sabendo sobre o conflito, percentual superior ao dos que disseram saber, por exemplo, sobre o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalização do aborto (62%) ou sobre a delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid (55%).
Segundo a pesquisa, mais de sete em cada dez entrevistados aprovaram as medidas tomadas pelo governo Lula para o resgate de brasileiros em Israel e na Faixa de Gaza. A postura de Lula diante do conflito, contudo, teve avaliação mais dividida: 35% consideraram positiva, e 23%, negativa. Outros 31% consideraram regular a atuação do presidente.
Para 57% dos entrevistados, o governo brasileiro está errado em não classificar o Hamas como terrorista. Uma minuta de resolução apresentada pelo Brasil ao Conselho de Segurança da ONU classifica o “ataque” do Hamas a Israel como terrorista, mas sem avançar sobre o grupo. A postura do Brasil é justificada pela falta de uma resolução conjunta na ONU sobre o tema; os Estados Unidos e a União Europeia, por outro lado, consideram o Hamas terrorista mesmo sem esta resolução.
Já o número de viagens de Lula é considerado excessivo para 55% dos entrevistados e 60% afirmam que ele se dedica mais à agenda internacional do que devia e consideram que essas viagens não trazem bons resultados para o país.
Outro tema que captou atenção dos entrevistados, segundo a pesquisa, as enchentes na região Sul despertaram avaliações divididas sobre a atuação do governo federal. Para 43% dos entrevistados, o governo forneceu ajuda “no tempo certo” às áreas atingidas; outros 42% consideraram que houve demora na ajuda. As percepções são inversamente proporcionais entre eleitores de Lula e de Bolsonaro, em um retrato da resiliência da polarização eleitoral de 2022. No grupo de entrevistados que disse ter votado em Lula, 67% consideram que a ajuda do governo veio no tempo certo, enquanto 21% avaliam que houve demora. Entre os eleitores bolsonaristas, 22% disseram que a ajuda ocorreu no tempo certo, e 62% responderam que houve demora.
Cenário semelhante aparece na percepção sobre a economia, embora o percentual dos que consideram que houve piora nos últimos 12 meses tenha aumentado de forma geral. Segundo a pesquisa, 32% avaliam que a economia brasileira piorou no período, um salto de nove pontos em relação ao percentual medido em agosto. Já o índice dos que consideram que a economia melhorou se manteve estável, em 33%.
Entre eleitores lulistas, 57% consideram que a economia melhorou, percentual similar ao de agosto, e 12% avaliam que piorou — uma variação de quatro pontos no período. Entre os bolsonaristas, 56% avaliam hoje que a economia piorou, enquanto 10% dizem que melhorou.
A pesquisa ouviu duas mil pessoas em 120 cidades de todas as regiões do país entre os dias 19 e 22 de outubro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiabilidade de 95%.
(Foto: Christian Liewig/Getty Images)