Pesquisa mostra que emissões de carbono na Amazônia mais do que dobraram sob Bolsonaro

Afrouxamento na aplicação das leis ambientais propiciou o aumento nos dois primeiros anos de Bolsonaro

 

Um estudo realizado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela que nos anos de 2019 e 2020, primeira metade do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, as emissões de carbono dispararam em relação à média dos nove anos anteriores, o que foi atribuído à queda na aplicação de leis de proteção ambiental, como as de controle do desmatamento. De acordo com a pesquisa do Inpe, que foi publicada na revista Nature as emissões de carbono subiram em 89% e 122%, respectivamente, em 2019 e 2020 em relação à média anual de emissões do período de 2010 a 2018.

No período pré-Bolsonaro analisado, as emissões de carbono chegaram à média de 0,24 bilhão de toneladas por ano. Em 2019, a marca foi de 0,44 bilhão de toneladas, enquanto em 2020, chegou a 0,52 bilhão de toneladas.

Os principais motivos apontados no estudo – que contou com mais de 30 cientistas, sendo a maior parte brasileiros – para o crescimento das emissões foram o desmatamento, a queima de biomassa e degradação florestal. Estes fatores são consequências diretas do afrouxamento das leis de proteção ambiental e fiscalização sob Bolsonaro. “A gente vê claramente a relação entre a subida dos desmatamentos e a redução das multas aplicadas”, aponta a pesquisadora do Inpe Luciana Gatti, coordenadora da pesquisa. As multas emitidas pelos órgãos de fiscalização diminuíram 30% em 2019 e 54% em 2020 e o pagamento das multas caiu 74% e 89% respectivamente. A coleta de amostras foi baseada em 742 voos feitos entre 2010 e 2020.

Já os alertas de desmatamento, identificados pelo sistema Deter, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aumentaram de forma acentuada nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, saindo de níveis próximos de 5.000 km² de área sob alerta ao ano para próximo de 9.500 km². Gatti destacou que o desmatamento gera um ciclo vicioso, em que a derrubada de árvores afeta a absorção de carbono e permite a chegada na atmosfera de seus derivados emitidos por atividades humanas, como o dióxido de carbono, elevando as temperaturas por meio do fenômeno das mudanças climáticas.

Essas temperaturas mais altas afetam o regime de chuvas da região, o que dificulta a sobrevivência da vegetação restante, aprofundam o prejuízo e impactam até mesmo a agricultura, uma das atividades responsáveis pela aumento do desmatamento. No estudo, foram realizados 742 voos na Amazônia de 2010 a 2020 para coletar amostras de dióxido de carbono.

Desde que tomou posse no início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm prometido reverter as políticas ambientais de seu antecessor e zerar o desmatamento na Amazônia em 2030, o que tem sido visto com bons olhos pela comunidade científica e por ativistas ambientais. No início de agosto, o Inpe divulgou que o desmatamento na região no mês de julho caiu 66% em relação ao mesmo período do ano anterior, registrando o melhor resultado para o mês desde 2017. De janeiro a julho, o desmatamento caiu 42,5% ante o mesmo período de 2022.

Compromisso

A apresentação dos resultados contou com a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos (PCdoB), que indicou a divulgação do estudo como “compromisso com a verdade”. “Nós estamos imbuídos desse espírito, utilizando as ferramentas da ciência e da tecnologia, para prover dados e informações sem escamotear a realidade. Aqui, temos compromisso com a verdade. Vamos fazer investimentos nos estudos que que possam nos ajudar a fazer um diagnóstico mais preciso. É por isso que temos a Torre ATTO, o AmazonFACE, o TerraClass, o novo satélite CBERS-6”, afirmou a ministra ao apontar as tecnologias postas a serviço de estudos ambientais como forma de monitorar e proteger as florestas.

Nessa linha, a ministra reafirmou o engajamento do governo federal com o desmatamento zero na Amazônia até 2030 e com o fomento à ciência e tecnologia para promover o desenvolvimento sustentável da região. Para tal lembrou do anúncio de R$ 3,4 bilhões para o programa Mais Amazônia, realizado durante a Cúpula da Amazônia, no início de agosto em Belém (PA). Os recursos serão investidos entre 2024 e 2026 para recuperar e consolidar a infraestrutura de pesquisa, e aperfeiçoar os sistemas de monitoramento da Amazônia.

(Foto: Divulgação/Inpe)

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