Conforme o IBGE, a taxa de pessoas que vivem com menos de R$ 200,00 por mês caiu para 5,9% em 2022, após alcançar 9,0% em 2021
O percentual de pessoas em situação de pobreza caiu de 36,7% para 31,6% em 2022, enquanto a proporção de cidadãos em extrema pobreza saiu de 9% para 5,9%. A taxa de pessoas que vivem com menos de R$ 200 por mês diminuiu para 5,9% em 2022, após alcançar 9% em 2021. Os dados são da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada nesta quarta-feira (6).
De acordo com o IBGE, havia 67,8 milhões de pessoas na pobreza e 12,7 milhões na extrema pobreza em 2022. Entre as pessoas pretas ou pardas, 40% eram pobres — patamar duas vezes superior à taxa da população branca (21%). Nos aspectos sociais analisados pela pesquisa, a maior incidência de pobreza se concentrou nas famílias lideradas por mulheres pretas ou pardas que são mães solos de filhos menores de 14 anos. Nesse grupo, 72,2% são pobres e 22,6% são extremamente pobres.
No levantamento, o IBGE utiliza os parâmetros do Banco Mundial de US$2,15/dia (R$ 10,58 por dia) para extrema pobreza e de US$ 6,85/dia (R$ 33,75 por dia) para a pobreza. “Na linha de extrema pobreza não há uma diferença significativa entre os valores da linha antiga e da linha atualizada ao longo da série, pois ela é basicamente de consumo para subsistência e a atualização se dá principalmente por uma questão de preços. Já a linha de pobreza mostra uma diferença maior, ligada à dinâmica do rendimento e padrões de consumo mais heterogêneos de países de renda-média alta”, explica André Simões, analista da pesquisa.
A participação das pessoas em situação de extrema pobreza em programas sociais chegou a 67% em 2022. Essas iniciativas de ajuda governamental são vistas como importantes para a redução da vulnerabilidade social. Em um cenário hipotético, a pesquisa analisou qual seria o impacto da ausência de programas sociais. De acordo com o IBGE, se não houvesse essas ações, a extrema pobreza teria sido cerca de 80% maior, elevando o percentual atual de 5,9% para 10,6%.
Entre 2021 e 2022, a pobreza e a extrema pobreza recuaram em todas as regiões, com destaque para o Norte (-7,2 pontos percentuais e -5,9 pontos, respectivamente) e o Nordeste (-6,2 p.p. e -5,8 p.p.). “Essas regiões concentram o maior volume de pessoas nessas situações e também são as regiões onde há um impacto maior dos programas sociais de transferência de renda”, contextualiza Simões. Destaca-se, ainda, o Centro-Oeste, que apresentou a maior queda na pobreza (-7,3 p.p.), relacionada, principalmente, ao dinamismo no mercado de trabalho da região em 2022.
A região Nordeste, em 2022, detinha 27% da população total do Brasil, mas concentrava 43,5% da população na pobreza e 54,6% da população em extrema pobreza. Já o Norte, que reunia 8,7% da população total, detinha 12,8% das pessoas em situação de pobreza e 11,9% das pessoas em extrema pobreza. Mais da metade (51%) da população do Nordeste estava em situação de pobreza. O Sudeste, com 42,1% da população do país, concentrava 30,7% das pessoas na pobreza e 23,8% das pessoas na extrema pobreza.
Maioria de mulheres pretas ou pardas na pobreza
As pessoas pretas ou pardas representavam mais de 70,0% dos pobres e dos extremamente pobres. Essas desigualdades também se mantiveram nas taxas de pobreza e extrema pobreza: em 2022, 40,0% das pessoas de cor ou raça preta ou parda eram pobres, num patamar duas vezes superior à taxa da população branca (21%) e 7,7% delas eram extremamente pobres, mais que o dobro da taxa entre brancos (3,5%).
Entre as mulheres pretas ou pardas, os percentuais foram ainda maiores, chegando a 41,3% de pobres e a 8,1% de extremamente pobres. O arranjo domiciliar formado por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos também concentrou a maior incidência de pobreza: 72,2% dos moradores eram pobres e 22,6% eram extremamente pobres.
A pobreza é maior nos domicílios onde vivem crianças. Entre as pessoas com até 14 anos de idade, 49,1% eram pobres e 10,0% eram extremamente pobres, um percentual muito superior ao da população com 60 anos ou mais: 14,8% de pobres e 2,3% extremamente pobres.
A participação dos benefícios de programas sociais no rendimento domiciliar das pessoas em situação de extrema pobreza chegou a 67,0% em 2022. Já a renda do trabalho foi responsável por apenas 27,4% do rendimento deste grupo. No Nordeste, os benefícios de programas sociais representaram 72,4%, caindo para 48,2% na região Sul, enquanto a participação da renda do trabalho foi de, respectivamente, 23,7% e 38,6%.
Entre os domicílios considerados pobres, o rendimento de benefícios de programas sociais chegou a 20,5% do total do rendimento. A renda do trabalho, por sua vez, foi responsável por 63,1%. No Sudeste, a proporção é ainda maior, com a renda do trabalho chegando a 70,2% do rendimento dos domicílios, enquanto no Nordeste, o percentual foi de 54,3%, em 2022.
“Isso mostra a importância das transferências de renda para a composição da renda dos domicílios das pessoas extremamente pobres e a maior influência do mercado de trabalho na composição da renda da população pobre”, observa Simões. Na população total, a distribuição de rendimentos por fonte ficou em 74,5% para trabalho; 18,1% aposentadoria e pensão; 3,0%, benefícios de programas sociais e 4,4% para outras fontes.
Programas sociais reduzem extrema pobreza em cerca de 80%
Além da maior participação na composição da renda da população extremamente pobre, os benefícios de programas sociais governamentais também impactam na redução, principalmente, da extrema pobreza. O estudo analisou a hipótese de não existirem os referidos programas, e os dados mostraram que a extrema pobreza teria sido cerca de 80% maior, elevando o percentual atual de 5,9% para 10,6%.
Com relação à pobreza, os impactos da ausência dos benefícios de programas sociais governamentais teriam sido menores, com uma proporção de pobres 12,0% maior do que o efetivamente registrado em 2022, passando de 31,6% para 35,4%.
(Foto: Cristiano Mariz/VEJA)