Pela vida, Pela Paz, Ditadura Nunca Mais!

Henrique Acker (correspondente internacional)   – Há 60 anos militares derrubaram um presidente eleito pelo voto direto, tomaram o poder e passaram a governar, apoiados por grandes empresários e o governo norte-americano. Muitas são as feridas abertas e as lutas sangrentas daquele período que ficaram na sociedade brasileira, mas uma não podemos perder: a batalha da memória.

Ao longo desta semana publicaremos uma série de artigos sobre as origens e os aspectos marcantes do golpe e da ditadura militar no Brasil. Dedicamos as matérias desta Série aos que arriscaram suas vidas, em especial os que morreram, para lutar contra a ditadura e pela democracia no Brasil.

 

Origens do golpe e da ditadura militar

A ditadura militar, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985, foi a resposta das forças mais conservadoras e reacionárias contra a possibilidade de avanços sociais e econômicos importantes, preconizados pelas reformas de base do governo João Goulart. Para o sucesso do golpe de 1964 foi fundamental o apoio do governo dos Estados Unidos da América.

Para explicar a ditadura é preciso voltar no tempo e lembrar as conquistas nacionais, sociais e trabalhistas dos dois governos de Getúlio Vargas. Ainda que marcado pela ditadura do Estado Novo, em suas duas passagens pela Presidência Vargas aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e criou o Ministério do Trabalho, incentivou a indústria de base (CSN), instituiu a legislação previdenciária, o salário mínimo e as pensões, impôs restrições à remessa de lucros para o exterior e criou a Petrobras.

É evidente que todas essas medidas desagradaram às classes dominantes e ao capital internacional. Conspiraram contra o avanço das conquistas sociais e trabalhistas boa parte do grande empresariado brasileiro e dos latifundiários, oficiais das forças armadas aglutinados na Escola Superior de Guerra, a UDN de Carlos Lacerda e companhia e os donos dos grandes jornais, notadamente o senhor Roberto Marinho, de O Globo.

Depois de uma campanha sistemática, que acusava Vargas de ser mandante do atentado à bala contra Lacerda, Getúlio se viu isolado e decidiu se suicidar. Seu último ato político desmascarou as forças reacionárias e adiou por dez anos os planos de um golpe das classes dominantes, que viria a ocorrer em 1964.

 O governo João Goulart

Apesar de trabalhista, João Goulart era um estancieiro do Rio Grande do Sul. Político habilidoso, foi ministro do Trabalho do segundo governo Vargas, tendo mediado conflitos importantes à época, notadamente a greve dos 300 mil, de São Paulo, e a dos marítimos, no Rio.

Goulart era sensível às reivindicações dos trabalhadores e preconizava a necessidade de um caminho nacionalista e independente para o país.

Foi eleito (pelo voto direto) a vice-presidente da República em 1960. Com a renúncia de Jânio Quadros, Jango assume a Presidência em 7 de setembro de 1961, apesar da pressão contrária de parte da cúpula das Forças Armadas e de grande parte do empresariado nacional.

A posse de Goulart desagrada aos setores mais reacionários do país e ao governo dos EUA, que ajuda a financiar uma campanha para desestabilizar seu governo, através de institutos semelhantes as ONG de hoje, notadamente o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD).

A conspiração para derrubar João Goulart procurava vinculá-lo aos movimentos dos trabalhadores do campo (Ligas Camponesas) e da cidade (sindicatos e centrais sindicais), associando seu governo ao desejo de estreitar laços com a então União Soviética, em pleno período da Guerra Fria.

Assim, acusando o Presidente de comunista, era possível articular numa mesma frente de combate contra o seu governo o empresariado, parte das camadas médias mais conservadoras, a cúpula da Igreja Católica e os partidos de oposição, contra a chamada “República sindicalista”.

O golpe de morte contra o governo Goulart se deu logo depois da greve dos marinheiros e do comício da Central do Brasil (13 de março de 1964), quando Jango anuncia as chamadas REFORMAS DE BASE para mais de 150 mil pessoas. Tratava-se de um conjunto de medidas que visava tão somente possibilitar aos trabalhadores da cidade e do campo o acesso a educação, moradia, serviços básicos e ao consumo de massa, algo impensável para as classes dominantes no Brasil.  (Foto: Arquivo/Reprodução)

Por  Henrique Acker (correspondente internacional) 

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