Henrique Vieira quer identificar relação entre religiosos fundamentalistas e o 8 de janeiro

Deputado será membro da CPMI dos atos golpistas e deverá ter embates com representantes do segmento evangélico da oposição que defendem os atos antidemocráticos.

 

Thiago Vilarins – A Federação PSOL-Rede confirmou o nome do deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL- RJ) como representante na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas, que reunirá, a partir da próxima quinta-feira (25), às 9h, deputados e senadores para investigar a tentativa de golpe cometida pelos bolsonaristas no dia 8 de janeiro deste ano, que destruiu a Praça dos Três Poderes em Brasília (DF).

O parlamentar revezará com a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) a vaga da federação no colegiado, que irá convocar participantes dos atos terroristas em busca de descobrir seus financiadores e organizadores. Com a dupla, a federação espera dar visibilidade a segmentos que não se viram representados em comissões parlamentares emblemáticas, como a CPI da Covid, e se opor a narrativas que associam evangélicos a posturas antidemocráticas e ao autoritarismo.

“Eu acho importante fazer o contraponto ao fundamentalismo religioso e sua repercussão na política. Evidentemente, bolsonarismo e fanatismo religioso tem profunda e direta relação. E esta é a contribuição que eu também quero dar. Nós precisamos entender a relação entre grupos religiosos fundamentalistas com o bolsonarismo, com a extrema direita, com os discursos de ódio na internet e com a articulação do golpe. Essa é a contribuição que eu quero dar também”, disse o deputado à reportagem do Opinião em Pauta.

Estreante na política, Henrique Vieira, que é pastor na Igreja Batista do Caminho, integra a minoria progressista de organizações evangélicas. Sua presença na CPMI promete grandes embates com nomes já confirmados pela oposição, dominada por representantes evangélicos extremamente ligados ao ex-presidente Bolsonaro, como os senadores Damares Alves (Republicanos_DF) e Magno Malta (PL-ES); e os deputados pastor Marco Feliciano (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG).

“Me interessa profundamente discernir, identificar a relação entre grupos fundamentalistas religiosos com o Bolsonaro, com esse espírito golpista que teve como consequência a tentativa lá de tomada do poder no dia 8 de janeiro. Então, eu quero sim combater narrativas religiosas, bélicas, intolerantes, tóxicas, antidemocráticas e que estão estimulando um clima profundamente violento e hostil no Brasil”, destacou.

Na conversa que ele teve com o Opinião em Pauta, Vieira ainda falou da estratégia de atuação da bancada de oposição e a expectativa de que a investigação, se for conduzida seriamente, deverá atingir diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Eu acredito que vai ficar provado que dia 8 de janeiro é consequência direta do bolsonarismo, da extrema direita. E acredito que sim pode chegar ao ex-presidente Jair Bolsonaro.”

 

Pastor Henrique Vieira: ‘Eu quero me contrapor a extrema direita, porque ela é bélica, é violenta, é tóxica, é antidemocrática, é autoritária, ela promove genocídio’.

 

Confira a entrevista do deputado Pastor Henrique Vieira com o Opinião em Pauta:

 

Qual será a estratégia da bancada do PSOL na CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro? Como evitar que os membros da oposição transformem as sessões em palanque voltado, apenas, em autopromoção e em desgastar a imagem do governo?

A nossa estratégia é atuar conjuntamente, Erica Hilton e eu, e nós queremos mapear os idealizadores, os financiadores e os operadores da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. Queremos chegar ao núcleo ideológico, ao núcleo econômico, ou seja, fazer uma investigação que vá à raiz do problema. Essa é a nossa estratégia: não deixar na superficialidade, é não deixar na exclusiva culpabilização das pessoas que invadiram os três poderes no dia oito, elas têm responsabilidade obviamente, mas é preciso chegar no núcleo gestor do processo do golpe. A nossa estratégia é fazer requerimentos nesse sentido. E trazer o debate, o tempo inteiro, para o foco da investigação e assim anestesiar esse potencial destrutivo e despolitizante que a extrema-direita tem.

 

A sua presença na CPMI carrega uma representatividade, praticamente, inédita nos debates da casa: a voz evangélica com viés ideológico de esquerda. Qual a importância da ocupação deste espaço e qual a contribuição que ela traz para o embate com a bancada de oposição?  

Eu acho importante fazer o contraponto ao fundamentalismo religioso e sua repercussão na política. Evidentemente, bolsonarismo e fanatismo religioso tem profunda e direta relação. E esta é a contribuição que eu também quero dar. Nós precisamos descobrir os financiadores do golpe. Nós precisamos descobrir os ideólogos do golpe. E nós precisamos entender a relação entre grupos religiosos fundamentalistas com o bolsonarismo, com a extrema direita, com os discursos de ódio na internet e com a articulação do golpe. Essa é a contribuição que eu quero dar também.

 

A base bolsonarista escalou uma tropa de representantes evangélicos para defender o discurso que responsabiliza o governo pelos atentados terroristas nas sedes dos três poderes, como, por exemplo, a ex-ministra do Direitos Humanos e da Mulher Damares Alves, o pastor Marco Feliciano e o deputado Nikolas Ferreira. O seu embate será apenas partidário ou também se preocupará em combater as narrativas destes representantes evangélicos?

Eu quero fazer parte de uma investigação séria, contundente, responsável, que não seja numa linha de revanchismo e vingança. Que garanta direito a defesa, presunção de inocência. Então assim, eu quero fazer um trabalho sério, consistente, uma investigação bem fundamentada. Eu quero me contrapor a extrema direita, porque ela é bélica, é violenta, é tóxica, é antidemocrática, é autoritária, ela promove genocídio. E é completamente contrária ao jogo democrático. Eu entendo que o que aconteceu dia 8 de janeiro é sintoma e reflexo desse extremismo de direita no Brasil. Eu quero investigar isso até as últimas consequências chegando aos ideólogos, aos operadores e aos financiadores desse golpe, ou melhor, dessa tentativa de golpe. Agora, me interessa profundamente discernir, identificar a relação entre grupos fundamentalistas religiosos com o Bolsonaro, com o bolsonarismo, com esse espírito golpista que teve como consequência a tentativa lá de tomada do poder no dia 8 de janeiro. Então, eu quero sim combater narrativas religiosas, bélicas, intolerantes, tóxicas, antidemocráticas e que estão estimulando um clima profundamente violento e hostil no Brasil.

 

Membros da base governista que antes relutaram na criação da CPMI, agora defendem a sua instalação com o discurso de que será o grande tiro no pé da oposição. Qual a sua avaliação sobre esse posicionamento? O senhor acredita que a apuração pode chegar ao ex-presidente Jair Bolsonaro?

Sim, eu acredito que essa CPMI, se bem-feita, pode ser um tiro no pé da própria extrema direita. Fazendo um trabalho sério, uma investigação correta, as convocações necessárias, as quebras de sigilo… Eu acredito que vai ficar provado que dia 8 de janeiro é consequência direta do bolsonarismo da extrema direita. E acredito que sim pode chegar ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Com investigação adequada, séria. É possível sim. Eu acho que tem que fazer a investigação sem medo e com muita seriedade.

 

(Fotos: divulgação/Mandato do deputado Pastor Henrique Vieira)

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