Por Henrique Acker – A queda do governo de direita de Michel Barnier tem como pano de fundo uma grave crise econômica que atinge a França. Junto com a Alemanha, o país sustenta os motores da economia da União Europeia. A crise tem a ver com a adoção e sustentação de altas taxas de juros durante nove meses pelo Banco Central Europeu, perda de competitividade dos produtos europeus e as consequências da guerra da Ucrânia.
Por motivos diferentes, descrédito e ingovernabilidade formam o cenário político atual nos dois países, levando ao avanço de partidos de extrema-direita. Tanto os dirigentes políticos franceses quanto alemães não conseguem oferecer um projeto de retomada de crescimento, combate à inflação, garantia de emprego e estabilidade a curto prazo às duas maiores economias da Europa.
França endividada
A dívida pública da França deve alcançar 113% de tudo que o país produz e comercializa (PIB) em 2024. A previsão é que essa mesma dívida cresça ainda mais em 2025, atingindo 114,7% do PIB francês.
O investimento empresarial registrou, de julho a setembro de 2024, “o quarto trimestre consecutivo de queda, caindo um total de 3,2%”, analisa o economista Marc Touati, presidente da ACDEFI, empresa independente de consultoria econômica e financeira. Ele acredita que, em breve, o desemprego deve atingir 8,5%.
O Instituto Nacional de Estatística dos Estudos Econômicos (Insee) prevê um crescimento econômico de 1,1 % para 2024, o mesmo nível do ano passado e também esperado para 2025. No entanto, o Observatório Francês das Conjunturas Econômicas é mais conservador, calculando um crescimento de apenas 0,7% do país para este ano.
Guerra, dívida pública e orçamento
Um dos motivos que contribuiu para o aumento da dívida pública francesa foi o apoio financeiro e militar à Ucrânia. A União Europeia já liberou 125 bilhões de euros em armamentos e ajuda humanitária para a Ucrânia, mais do que os 88 bilhões já empenhados pelos EUA de janeiro de 2022 ao final de outubro de 2024.
Só o governo de Emmanuel Macron contribuiu com 4,28 bilhões de euros. No total de recursos compartilhados pelos governos da União Europeia, a França é responsável por mais 8,58 bilhões de euros, o que totaliza 12,86 bilhões de euros.
Em função do volume que a dívida alcançou, o governo de direita de Michel Barnier propôs ao parlamento a aprovação de um Orçamento com o corte de 41 bilhões de euros, sobretudo nas áreas sociais.
Desses, os cortes mais expressivos seriam: 14,8 bilhões da Previdência Social; 5 bilhões de euros das despesas com serviços públicos; postos de trabalho no serviço público, com destaque para 4 mil empregos a menos só no Ministério da Educação.

Apelo ecologista a Macron
A impopularidade das medidas apresentadas foi suficiente para a queda do governo macronista de Michel Barnier. Apesar do acordo de sustentação de Barnier entre Marine Le Pen e o presidente Emmanuel Macron, a extrema-direita se viu forçada a aprovar a moção de censura proposta pela França Insubmissa e os demais partidos de esquerda.
Em carta publicada pela rede social X, a líder dos Ecologistas apela a Macron por uma alternância política. Marine Tondelier pede ao Presidente da República que nomeie uma “personalidade de esquerda e ambientalista” como primeiro-ministro. A coligação de partidos de esquerda foi vencedora na eleição parlamentar de julho deste ano.
Seja qual for a solução política que Emmanuel Macron apresente, a receita de corte de investimentos públicos parece sem força para ser aprovada num parlamento dividido em três e um governo sem popularidade nas ruas. Na quinta-feira, 5 de dezembro, os servidores públicos franceses realizaram um dia de luta, com paralisações em todo o país.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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