Marcelo Ferreira, um agente da Guarda Civil Municipal (GCM) de São Paulo, acompanhava na última quinta-feira (17) o youtuber e suplente de deputado estadual Lucas Pavanato (PL), na Universidade de São Paulo (USP), quando se deparou com estudantes que pediam para o político se retirar, sacou sua arma e apontou para os alunos.
Pavanato tem apenas 25 anos. Nascido em 1998, o político recém saído da adolescência começou sua trajetória no MBL (Movimento Brasil Livre), movimento que ganhou notoriedade a partir de 2015 quando marcou presença nos atos que pediam o impeachment de Dilma Rousseff. Entrou para a política institucional pra valer como chefe do gabinete de Fernando Hollyday (PL-SP), outro político de extrema-direita oriundo do MBL, na Câmara Municipal de São Paulo.
No ano passado, se candidatou pelo Partido Novo e acabou eleito suplente na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Hoje, ao que consta, está no PL de Bolsonaro. Também atuou, no passado, como comentarista na Jovem Pan.
Como youtuber, é conhecido por fazer produções parecidas com as de outro militante do MBL, Arthur do Val. Assim como o ‘mamãe-falei’, Pavanato também tem o costume de ir a locais onde pessoas de esquerda se concentram e provocá-las diante das câmeras.
Na última quinta-feira (17) ele foi à USP gravar um vídeo em que apresentaria fotos de figuras históricas, à esquerda e à direita, como Karl Marx e Margareth Thatcher, para ver quais seriam reconhecidas pelos alunos. Ele já sabia de antemão que não seria bem recebido e, cansado de ver as cenas em que Arthur do Val e outros militantes do MBL foram expulsos no tapa de universidades e manifestações, achou que seria por bem levar seu segurança armado.
Multidão de alunos
Membro de uma força de segurança, o homem sequer poderia estar fazendo um bico em sua folga, conforme aponta a lei brasileira. Mas as coisas só pioraram.
Quando Pavanato chegou à FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) tentou fazer sua graça e rapidamente foi rechaçado. Uma multidão de alunos logo se formou e começou a expulsá-lo aos gritos de “recua, fascista”.
Foi nesse momento que o segurança sacou a arma e, segundo declaração do DCE (Diretório Central dos Estudantes da USP), apontou o cano para o rosto de estudantes. Ao final, Pavanato acabou expulso, mas não apanhou como seus colegas de MBL. Além disso, o segurança acabou tendo a arma apreendida e o caso foi registrado na Polícia Civil como lesão corporal e ameaça. Dois jovens de 18 e 25 anos ficaram feridos e as autoridades agora vão investigar o caso.
“O MBL trouxe um segurança armado para ameaçar os estudantes. Esses fascistas que estão ocupando nossa universidade. O cara tá armado, apontando a arma para os estudantes”, disse uma estudante no meio da confusão.
Pavanato alega que foi fazer uma “brincadeira” e que alunos de “extrema-esquerda” o forçaram a ir embora. “A situação ficou tão insustentável que um amigo GCM precisou intervir para que algo pior não acontecesse”, declarou.
Já Paulo Martins, diretor da FFLCH, usou o canal oficial da faculdade para se pronunciar: “Nossa faculdade foi, em certa medida, ameaçada na sua integridade física, moral, por pessoas que são externas à USP. Estaremos sempre preparados a tomar atitudes drásticas, principalmente quando, dentro da nossa faculdade, vêm pessoas que estão armadas. Armadas contra professores, contra jovens estudantes, contra funcionários. Não é admissível que devemos tolerar esse tipo de atitude”, declarou.
Na imagem, Marcelo Ferreira, agente da GCM. (Foto: Reprodução/Twitter)