Após anunciar que se apresentaria às autoridades italianas, a deputada afastada Carla Zambelli (PL-SP) permanece em fuga. Atualmente, há um mandado de prisão definitivo emitido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O juiz também comunicou à Câmara dos Deputados sobre a anulação do mandato da parlamentar e solicitou oficialmente a sua extradição para que ela cumpra uma pena de 10 anos de reclusão.
Em terra italiana
A Polícia Federal (PF) confirmou a presença da deputada na Itália. Com a colaboração de autoridades locais, acompanhou sua chegada a Roma. A detenção estava prevista para ocorrer às 11h da quinta-feira (5).
No entanto, nesse momento, o nome de Zambelli ainda não constava na lista vermelha da Interpol, o que dificultou a operação. Até o término desta reportagem, no sábado (7), não se sabia onde estava a deputada licenciada.
Tio Sam
A jornada de Zambelli para evitar a prisão veio à tona na terça-feira (3), quando ela concedeu uma entrevista ao canal Auriverde, no YouTube, e revelou que havia deixado o Brasil. Sem fornecer pormenores, informou que seu destino seria a Europa.
“Gostaria de informar que estou fora do Brasil há alguns dias. Inicialmente, eu vim para buscar um tratamento médico que já realizava aqui, e agora vou solicitar meu afastamento do cargo”, afirmou.
Em breve, a congressista deu uma entrevista exclusiva à CNN. Zambelli declarou que se encontrava nos Estados Unidos e, a partir daí, iria para a Itália. Ela afirmou não ter receio da justiça brasileira, uma vez que depositava sua confiança na justiça italiana.
“Vão tentar me deter na Itália, mas não tenho medo, pois sou cidadã italiana e sou intocável lá, a menos que a justiça local decida me prender. Nesse caso, não será o Moraes, mas sim o sistema judicial italiano, e estou disposta a aguardar para ver o que acontece”, declarou.
Após algumas horas, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a detenção preventiva da parlamentar. “A acusada, sabendo da sua condenação, deve ser tratada como foragida, uma vez que fugiu para o exterior e declarou publicamente que reside na Europa”, defendeu Gonet.
No dia seguinte, Moraes concordou com o pedido. O juiz também instruiu a Polícia Federal a pedir que o nome de Zambelli fosse adicionado à lista da Interpol. Os salários, os ativos financeiros em bancos e as contas nas redes sociais da parlamentar foram congelados.
Na Argentina
A Polícia Federal constatou que Zambelli saiu do Brasil em direção à Argentina alguns dias antes das declarações em que ela mesma confirmou sua partida do país. A viagem foi realizada de automóvel, saindo de São Paulo rumo a Puerto Iguazu, com passagem por Foz do Iguaçu (PR).
A parlamentar teria embarcado em um voo para Buenos Aires e, posteriormente, tomado outro rumo a Miami.
10 anos de reclusão
Zambelli recebeu uma sentença em maio por crimes como acesso não autorizado a dispositivos eletrônicos, falsificação de informações e inclusão de dados falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além de cumprir 10 anos de reclusão, a punição inclui a cassação do cargo parlamentar e uma multa de R$ 2 milhões em reparação por danos morais e coletivos.
Na sexta-feira (6), a Primeira Turma do STF rejeitou por unanimidade o recurso apresentado por Zambelli. A reunião já havia sido agendada, com expectativa de duração de uma semana.
Com a nova condição de foragida, o ministro Alexandre de Moraes solicitou uma prorrogação para que os cinco integrantes do colegiado (Moraes, Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux) tivessem apenas 24 horas para registrar seus votos.
A estratégia acelerou a finalização do processo. Ao eliminar a chance de apelações, a sentença pode ser cumprida sem a exigência de divulgação da decisão em conjunto.
Embora tenha receio da extradição, Zambelli declarou à CNN que planeja se adiantar e se apresentar de forma voluntária às autoridades na Itália. No entanto, a parlamentar não mencionou nenhuma data específica.
“Gostaria de mostrar minha intenção de agir de forma correta em relação à Justiça e ao governo da Itália. Meu objetivo é atuar de maneira adequada. Tenho consideração pelas leis do Brasil, mas não conseguirei aceitar a injustiça praticada pelo Moraes […] Sinto receio [da extradição] por ter respeito pela justiça italiana. Contudo, confio em Deus que não permitirá que isso ocorra.” (Foto: Câmara dos Deputados)