Para 69% dos brasileiros, juros altos contribuem muito para a piora do custo de vida

Pesquisa feita com 32 países coloca o brasileiro entre os mais preocupados. Selic se encontra em 10,50%, após uma redução de 0,25 ponto percentual em maio deste ano

 

O aumento da taxa de juros contribui com a preocupação de 69% dos brasileiros para a pioria do custo de vida, apontou pesquisa semestral “Monitor do Custo de Vida” da Ipsos, com 32 países e quase 25 mil entrevistados. Atualmente, a Selic se encontra em 10,5%, após uma redução de 0,25 ponto percentual em maio deste ano, sinalizando desaceleração do ritmo adotado pela autoridade monetária.

Conforme o Boletim Focus publicado na segunda-feira (17), a taxa deve se manter nesse patamar até o fim de 2024. O percentual de preocupação dos brasileiros indica um alto patamar de compreensão sobre o peso da Selic no bolso e converge com a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros e segmentos sociais e da economia têm feito para que haja uma redução mais acentuada e célere da Selic.

Marcos Calliari, CEO do Ipsos Brasil, lembra, no entanto, que a avaliação já foi pior. “O número brasileiro vem caindo a cada nova medição do estudo. Em novembro de 2022, chegou a atingir 83% – mês em que o país era o segundo mais preocupado com o tema entre todas as nações pesquisadas”, explica.

Essa mudança de percepção parece ter acompanhado, em certa medida, os movimentos da Selic no período. O Copom elevou a taxa por 12 vezes consecutivas de março de 2021 a agosto de 2022. Depois, entre agosto de 22 e de 23, o índice foi mantido por sete reuniões seguidas, quando, finalmente teve início a trajetória de queda, também por sete vezes, chegando ao patamar atual.

Nesta terça-feira (18) começou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a nova taxa de juros. O encontro termina nesta quarta (19) com o anúncio da decisão, mas a tendência é de que ela seja mantida em 10,5% ao ano.

Apesar do patamar alto de preocupação,  o Brasil não é o mais preocupado com esse cenário: a Coreia do Sul encabeça a lista, com 81%, seguido da África do Sul (80%) e Turquia (78%). Esse movimento representa uma queda na preocupação dos brasileiros. Em novembro de 2022, a preocupação das pessoas acerca dos juros chegou a atingir 83% — colocando o país na 2ª posição dos países pesquisados, segundo o levantamento. A pesquisa “Monitor do Custo de Vida”, da Ipsos, engloba 32 países e quase 25 mil entrevistados e é feita semestralmente.

Cenário econômico e custo de vida

De acordo com a Ipsos, 32% dos entrevistados no Brasil dizem estar passando dificuldade ou muitas dificuldades financeiras atualmente. Comparando com outros pares emergentes, a Argentina se encontra em uma situação menos confortável: 57% indicaram alguma adversidade. Entre os motivos, a percepção dos brasileiros acerca de uma piora no emprego contribui com o diagnóstico da pesquisa e aumentou em relação a dois anos atrás, sendo que pouco menos da metade acredita que o número de desempregados aumentará no país, ante 35% em 2022.

Em abril, o Brasil abriu 240.033 vagas de emprego formal, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) — o melhor resultado para o mês da série histórica da nova metodologia, iniciada em 2020. África do Sul (73%), Turquia (72%) e Indonésia (69%) lideram o ranking deste mês nessa percepção.

Já sobre o aumento dos preços e consequentemente o custo de vida, 53% acreditam no avanço dos valores dos produtos e serviços nos próximos meses. A inflação para o mês de maio registrou alta de 0,46%, acima das expectativas de analistas, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Já os argentinos aparecem mais otimistas com a inflação: menos da metade, 45%, acredita que os preços subirão nos próximos meses. A variação de preços no país vizinho caiu pela metade de abril para maio, atingindo 4,2%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC, na sigla em espanhol).

Carga tributária

Sobre impostos, 54% dos brasileiros acreditam que eles aumentarão no próximo semestre, um pouco acima da média global de 53%, mas abaixo da Turquia e Argentina, onde 70% das pessoas indicaram essa percepção. O Brasil está passando atualmente pela regulamentação de uma reforma tributária sobre o consumo, que deve provocar um aumento de 10% no Produto Interno Bruto (PIB) em até 13 anos, segundo as contas do governo federal.

Pressão por maior queda

Desde que chegou à presidência pela terceira vez, Lula e setores políticos e econômicos pressionam o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para rever a política de juros altos que limita o crescimento do país e prejudica a população.  Em sua mais recente crítica, feita durante entrevista à rádio CBN nesta terça (18), o presidente destacou: “Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”.

Disse, ainda, que “nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país”.

Considerando o patamar da Selic de 10,75% em março, o Brasil figura na segunda posição entre os países com maior juros reais (descontada a inflação), com 5,9%, ficando atrás apenas do México (7,46%), segundo análise da consultoria MoneYou, que usa como base dados do FMI e do BC.  No ranking dos juros nominais, aparece na sexta posição, abaixo da Argentina (80%); Turquia (45%); Rússia (16%); Colômbia (12,75%) e  México (11,25%).

(Foto: Shutterstock)

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