Palmério Dória escreveu uma história rica em resistência e de combate ao fascismo

Hiroshi Bogéa – Pelo menos uma vez ao mês, tínhamos o habito de manter contatos através do Zap. Quando não era ele, eu o acionava, para comentar “as coisas do Brasil”.

Esses contatos eram regulares, até o ano de 2017.

Depois desse período, nossas conversas foram minguando, quase escassas – acho que Palmério Dória já estava submetido a tratamento de saúde.

Nosso primeiro contato ocorreu por volta do ano 2009, quando escrevi três matérias seguidas em meu blog sobre a Hidrovia Araguaia-Tocantins, cuja qual Dória era um ferrenho opositor por visualiza-la exclusivamente como logística a favor da soja e dos grandes exportadores.

Dória mandou mensagem pontuando alguns pontos da matéria que ele discordava.

E seus argumentos eram de quem estudava a questão e os exibia com extrema profundidade.

Uma vez, depois de ler uma sequência de respostas minhas a um bolsonarista que invadiu meu perfil no Facebook fazendo comentário desairoso a uma crítica que fazia ao genocida, Palmério Dória foi ao meu socorro, mandando a seguinte mensagem:

 

“HB, siga aquele velho e sempre oportuno conselho de Mark Twain: ´Nunca discutas com um idiota. Ele arrasta-te até ao nível dele, e depois vence-te em experiência

Ao tomar conhecimento, nesta madrugada, da morte desse jornalista que nunca traiu suas convicções, humanista e defensor intransigente das liberdades e dos governos de esquerda, me senti meio assim como desguarnecido.

Tá tão difícil fazer resistência ao lado de colegas sonhadores e que nunca deixaram suas origens transformadoras, não ter como companheira a voz de um brasileiro como Palmério, dá um desalento perturbador.

Ironia do destino, Doria nos deixou exatamente no dia 31 de março, justamente na data em que setores obscuros da sociedade brasileira comemoram um golpe de Estado do qual Palmério foi um dos grandes brasileiros a levantar-se contra.

Antifascista de nascimento, Palmério foi um dos jornalistas mais importantes do país, estando sempre de prontidão para combater a escuridão dos regimes de extrema direita.

Morava em São Paulo, havia muitos anos.

Aliás, uma vez ele me escreveu dizendo: -“Sampa representa pra mim os longos horizontes a serpentear o rio Tapajós”, lembrando de suas origens paraenses nascido à beira dos rios da Amazônia, santareno que era.

Autor de vários livros, entre eles, o mais conhecido trata da ascensão e poder político da família do ex-presidente José Sarney – ‘Honoráveis Bandidos – Um Retrato do Brasil na Era Sarney’.

 

Palmério fará uma falta enorme. (Foto: reprodução)

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