Países do G7 miram na Rússia e na China

Por Henrique Acker (Correspondente na Europa) – Desta sexta-feira até domingo (19 a 21 de maio) representantes do G7, grupo de países mais ricos do Mundo, estarão reunidos em Hiroshima, no Japão. São eles: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Na pauta, a guerra na Ucrânia, o desarmamento nuclear, as relações com a China e as alterações climáticas.

O G7 atua pretensamente como representante das principais potências econômicas do Planeta. Apesar da China não participar do grupo, sua importância não pode ser ignorada e o país asiático é alvo das preocupações na definição da própria pauta do encontro.

A União Européia participará do evento, assim como o Presidente Lula e representantes dos governos da Índia, Coréia do Sul e Austrália, entre outros, como convidados.

 

Diferenças internas

Nos bastidores há diferenças em como lidar com as sanções impostas à Rússia, em função da invasão da Ucrânia, e com a China, principal parceiro comercial dos países do G7 e produtora de grande parte das mercadorias consumidas nesses países.

Os Estados Unidos e os líderes da União Europeia defendem posições mais duras no trato com os dois países. Já os líderes da Alemanha (Olaf Scholz) e da França (Emmanuel Macron) expressam uma posição mais equilibrada. Macron tem levantado, ainda que de forma tímida, a bandeira de uma União Europeia mais independente dos EUA.

No que diz respeito à guerra, o ensaio de uma contra-ofensiva militar ucraniana é visto por analistas como uma forma de ganhar tempo e terreno para uma negociação mais favorável à OTAN num futuro acordo de paz com a Rússia.

Não há sinais de que o discurso de Volodomir Zelensky de uma vitória militar ucraniana seja viável, mesmo com alguns pequenos avanços no terreno de batalha e o envio de novas levas de armamentos, notadamente carros de combate, tanques, mísseis e até aviões por parte das potências ocidentais.

 

Conta alta

Só em 2023 a União Europeia deve desembolsar 18 bilhões de euros em ajuda financeira ao governo de Kiev. A isso se somam os 7,2 bilhões de euros em empréstimos já concedidos aquele país entre 2014 e 2022. O governo ucraniano alerta que precisará de mais 18 bilhões de euros em 2024, para pôr em marcha os planos de reconstrução do país.

O FMI estima que as necessidades de financiamento externo para a Ucrânia cheguem a 36,02 bilhões de euros em 2023 e 2024, caso a guerra termine em meados do próximo ano. Por sua vez, o Banco Mundial avalia as necessidades de reconstrução em 370,17 bilhões de euros, o dobro do PIB do país antes da guerra.

Por mais que a retórica da defesa da “liberdade” e da “democracia” seja alimentada pelos líderes da União Europeia, o preço da guerra é elevado, não só pelos empréstimos em dinheiro e armas enviadas ao governo de Kiev, mas, sobretudo, o custo que a guerra impõe à população da UE, com destaque para a inflação. E isso se expressa também no desgaste político dos governantes.

 

China é o alvo

UE e EUA precisam lidar com a contradição de terem que conviver com os avanços da China como seu maior parceiro econômico. Na lógica do grande capital financeiro, que hoje comanda o sistema nos EUA e na UE, através das grandes holdings e da lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, o avanço do projeto da Nova Rota da Seda representa uma ameaça, a partir de uma matriz de produção de mercadorias em larga escala, incorporando tecnologia de ponta.

Sem contar que a China é o maior mercado comprador de matérias-primas e mercadorias do Mundo. A China é também um dos grandes credores de títulos da dívida pública dos EUA, com cerca de 1 trilhão de dólares.

Toda a disputa geopolítica em curso se reflete no conflito Rússia-Ucrânia. A guerra serviu para coesionar a UE e os EUA em torno da OTAN, organização militar que estava praticamente paralisada. Por outro lado, a contenção das fronteiras russas é um obstáculo concreto no avanço da Nova Rota da Seda chinesa, que precisa atravessar os territórios da Rússia e da Turquia para chegar ao mercado europeu. (Foto: Divulgação)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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