Valores foram adquiridos com venda de relógios e presentes recebidos pela Presidência. Se condenado, Bolsonaro pode enfrentar entre 10 e 32 anos de prisão por uma série de crimes
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, retirou o sigilo do caso das joias sauditas nesta segunda-feira (8). Segundo a investigação da Polícia Federal, Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, repassou 25 mil dólares em espécie ao ex-capitão. O relato foi confirmado pelo próprio Mauro Cid, que fechou um acordo de delação premiada. As informações são da CNN e do jornal O Globo.
Segundo relatou Lourena Cid, os repasses a Bolsonaro foram feitos “de forma fracionada”. “O colaborador ajustou com seu pai, general Mauro Cesar Lourena Cid, que o saque dos U$ 68 mil ocorreria de forma fracionada e entregue à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil; que o dinheiro seria entregue sempre em espécie de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal”, diz trecho do depoimento do tenente-coronel.
De acordo com relatos de pai e filho, houve ao menos dois momentos de entrega. A primeira ocorreu em setembro de 2022, quando Bolsonaro ainda era presidente e esteve em Nova York para participar da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O general declarou que “se recorda de ter repassado ao ex-Presidente Jair Bolsonaro uma parte do valor, quando de sua ida à cidade de Nova York para um evento da ONU” e “que repassou os valores quando visitou o ex-presidente no hotel”.
Já Mauro Cid disse que, nessa ocasião, atuou como intermediário para o repasse de US$ 30 mil. “O pai do colaborador, Mauro Cesar Lourena Cid, viajou para a cidade de Nova York, pois também fazia parte da comitiva Presidencial; que na cidade de Nova York, LOURENA CID entregou cerca de U$ 30 mil (trinta mil dólares) em espécie, a Jair Bolsonaro, por meio do colaborador”, diz seu depoimento. Em 2023, quando o ex-presidente tinha saído do cargo no Brasil e estava nos Estados Unidos, houve duas novas entregas, em fevereiro e março, na casa de Lourena Cid.
O general afirmou que “o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu assessor Osmar Crivelatti foram até a residência do declarante na cidade de Miami; que o declarante repassou os valores para o assessor Osmar Crivelatti”. Depois, “na outra oportunidade o assessor Osmar Crivelatti foi sozinho até a residência do declarante e pegou parte dos valores decorrentes da venda dos relógios”.
Cid afirmou que, no primeiro encontro, foram entregues R$ 20 mil. “No final fevereiro de 2023, o ex-presidente Jairu Bolsonaro visitou Lourena CID em sua residência na cidade de Miami/FL, nos Estados Unidos, oportunidade em que o pai do colaborador entregou a Jair Bolsonaro a quantia de U$ 20 mil (vinte mil dólares), em espécie; QUE o dinheiro foi entregue em mãos a Osmar Crivelatti, assessor que acompanhava Jair Bolsonaro”, diz seu depoimento.
Crivelatti confirmou ter recebido um “envelope”, que deveria ser entregue a Bolsonaro, mas disse que não sabia o conteúdo. “Esteve na casa de Mauro Cid na região de Miami, nos EUA, no final de fevereiro de 2023, provavelmente no dia 28, e lá recebeu um envelope de MAURO CID, oportunidade em que o mesmo lhe disse para entregar esse envelope a Jair Bolsonaro; que não sabe dizer o que havia no interior desse envelope”, diz a transcrição do seu depoimento.
A defesa de Bolsonaro não comentou o relatório. Entretanto, ao longo da apuração da PF, os advogados do ex-presidente afirmaram que ele agiu dentro da lei” e “declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens”. Esses itens, na visão dos advogados, deveriam compor seu acervo privado, sendo levados por ele ao fim de seu mandato.
Se condenado no caso das joias árabes, Bolsonaro pode enfrentar entre 10 e 32 anos de prisão por crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos.
(Foto: Alerj)