OTAN fecha cordão de isolamento da Rússia

Henrique Acker (Correspondente internacional)  –  Os líderes dos 31 países da OTAN reuniram-se nos dias 11 e 12 de julho em Vilnius, capital da Lituânia. Na pauta, uma série de temas: guerra e pedido de adesão da Ucrânia, adesão da Suécia, expansão dos efetivos militares na Europa, ameaça russa e cessão de bombas de fragmentação ao governo de Kiev.

As consequências da invasão da Ucrânia são muito mais amplas e graves do que aparentam. Vamos a uma breve exposição sobre elas:

1) A recente adesão da Finlândia e a entrada da Suécia para a OTAN fecham o cerco, criando também um acesso marítimo (Mar Báltico) ao território russo. Isso vai levar a uma resposta do governo russo, com o reforço militar na fronteira com os dois países, tradicionalmente neutros.

2) O isolamento e cerco da Rússia será não só econômico (sanções), mas sobretudo militar. Uma espécie de reedição do chamado “cordão sanitário”, levado a cabo pelos países da Europa contra o país, logo após à Revolução Bolchevique de 1917.

3) Certamente a reação russa será no campo econômico, voltando-se cada vez mais para o comércio com a China e os países da África e América Latina, como também militar, o que pode levar à reedição de uma nova “guerra fria” e tensão sobre possíveis conflitos no Leste Europeu.

4) A criação de um Conselho OTAN-Ucrânia deve ampliar a assessoria direta da organização aos ucranianos e acelerar as decisões necessárias no campo militar, com a cessão de novas armas e munições. Apesar das restrições de países aliados, os EUA confirmaram a entrega de bombas de fragmentação a Kiev, com consequências ainda piores para a população civil ucraniana.

5) Os planos de aumento de tropas em território europeu – 300.000 efetivos em alerta máximo – vão forçar todos os países da OTAN a assumirem a contribuição mínima de 2% de seu orçamento para a defesa. Isso terá consequências não só para o fortalecimento da OTAN enquanto organização determinante no Continente, assim como a canalização de verbas públicas em toda a Europa para o complexo industrial militar e o aumento do endividamento público.

6) Apesar de ainda não classificar a China diretamente como um “inimigo” a ser combatido, a declaração da Cúpula de Vilnius vai no sentido de alertar a China para que se subordine à ordem ocidental em termos de política internacional, sob pena de arcar com as consequências de seus atos.

7) O alerta da OTAN sobre a China soma-se a iniciativas concretas, como a recente consolidação da Aukus, tratado militar que reúne os EUA, a Inglaterra e a Austrália, visando conter o avanço da navegação chinesa nas águas do Indo-Pacífico. Cresceram nos últimos meses as pressões do governo Biden sobre a China, usando Taiwan como instrumento de provocações contra o governo de Pequim.

8) Ao contrário de assegurar melhores condições econômicas e políticas para a Rússia, a invasão da Ucrânia serviu para coesionar a OTAN e ampliar o isolamento de Moscou no cenário europeu.

9) O único ponto de ligação marítima da Rússia ao Ocidente que resta é o Mar Negro, que pode ser acessado pela Criméia, parte de território em disputa com a Ucrânia. Assim mesmo, para chegar ao Mar Mediterrâneo, as embarcações têm que atravessar o Mar de Mármara, com a permissão do governo da Turquia.

10) Vai se consolidando um divisor de águas entre setores do capital financeiro especulativo das grandes holdings (EUA, União Europeia e aliados) de um lado, e do capital industrial high tech (China e seus aliados), que abastece os mercados consumidores, de outro. No meio desses dois blocos, os produtores de commodities e matérias-primas de exportação, entre os quais o Brasil, os demais países do Mercosul e da África.

A guerra da Ucrânia torna-se um marco na história, acelerando o alinhamento de blocos dentro da geopolítica do capitalismo contemporâneo. Mesmo que não se verifiquem novos confrontos armados em curto prazo, envolvendo diretamente as grandes potências, mais uma vez a humanidade se vê dividida e refém da ameaça de guerras. (Foto oficial da Otan / Reprodução)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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