Os ventos da aprovação

Lula assumiu o cargo em janeiro de 2023 com promessas de reunificação nacional e retomada do crescimento econômico. 

 

 

Rodrigo Vargas  (Jornalista) –   O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva chegou com um misto de esperança e desafios. Ele, o homem que um dia disse ser possível governar para os ricos e para os pobres, agora enfrenta um cenário que desafia essa premissa. A baixa na aprovação de seu governo não é apenas um número frio de pesquisas, mas um termômetro que revela os humores e ansiedades de um Brasil plural e complexo.

Lula assumiu o cargo em janeiro de 2023 com promessas de reunificação nacional e retomada do crescimento econômico. As chamas do extremismo político ainda ardiam, e ele, como bom bombeiro político, buscou apagar incêndios e reabrir os diálogos. No entanto, governar um país é como caminhar em um fio de navalha: equilibrar interesses antagônicos é uma arte que nem sempre resulta em aplausos.

A economia, que tanto influencia o humor popular, apresenta avanços tímidos. Há progresso em indicadores macroeconômicos, mas a sensação de alívio não chega à mesa de quem ainda calcula os centavos para o almoço. O desemprego caiu, mas as desigualdades permanecem, e o preço da cesta básica continua sendo um fardo pesado para muitos. É a velha desconexão entre os números das planilhas e as histórias das ruas.

Outro ponto de atrito é a comunicação do governo. O que um dia foi a grande arma de Lula, agora parece tropeçar no novo campo de batalha das redes sociais. Em um mundo onde narrativas são construídas em 280 caracteres e vídeos curtos dominam a atenção, o governo encontra dificuldades em se fazer ouvir de maneira eficiente. A oposição, por outro lado, ocupa esses espaços com velocidade e precisão, plantando dúvidas e alimentando indignações.

E há, claro, as alianças políticas, esse jogo de xadrez que, muitas vezes, exige movimentos que desagradam parte da torcida. A convivência com o centrão, ainda que pragmática, gera críticas tanto da esquerda mais radical quanto de setores do eleitorado que esperavam uma postura mais independente. O pragmatismo é visto, por uns, como uma traição aos ideais e, por outros, como um mal necessário para governar.

Mas será que a baixa aprovação reflete apenas falhas de gestão? Ou é também o retrato de uma nação que ainda luta para se reencontrar após anos de polarização extrema? O Brasil vive um momento em que as fraturas sociais parecem mais expostas do que nunca. O descontentamento, muitas vezes, não é direcionado apenas ao governo atual, mas a um sistema que falha em atender às necessidades de um povo cansado de promessas vazias.

Lula, com toda sua experiência e carisma, sabe que governar o Brasil nunca foi uma tarefa fácil. Ele enfrenta um país diferente daquele que governou nos anos dourados do crescimento econômico e das commodities em alta. O desafio agora é maior: é preciso não só entregar resultados, mas também reconstruir pontes, alinhar expectativas e lembrar que a política, em última instância, é sobre pessoas.

A baixa aprovação pode ser uma mensagem de alerta, um pedido de ajuste de rota. Resta saber se o governo saberá ouvir as vozes das ruas e responder a elas com ações concretas e mudanças significativas. Afinal, a história já mostrou que o Brasil é uma terra de resiliência, e os ventos da aprovação podem mudar tão rápido quanto os humores de um país que nunca para de sonhar.

Relacionados

plugins premium WordPress