Henrique Acker (correspondente internacional) – O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, protagonizou alguns dos momentos mais controversos da 79ª Assembleia Geral da ONU, na sexta-feira, 27 de setembro. A começar pela sua recepção por um salão quase vazio, onde ainda assim recebeu apupos e vaias, manifestação que não se viu para nenhum outro orador.
Diversas delegações abandonaram o recinto — inclusive a do Brasil —, recusando-se a ouvir Netanyahu. As palmas se restringiam à representação oficial de Israel e a um grupo de familiares de reféns israelenses, na galeria da plateia. Logo de início, o premier israelense deixou claro a que veio: “Depois de escutar mentiras e difamações contra meu país, decidi vir e deixar as coisas claras”.
O “bem” contra o “mal”
Para justificar o massacre em Gaza e os bombardeios ao Líbano, Netanyahu retomou uma versão da política externa dos tempos do governo George Bush filho, quando os EUA criou o chamado “eixo do mal”, onde incluía todos os seus adversários. Numa linguagem primária, passou a definir o Irã e seus aliados como o “mal”, e Israel e seus apoiadores como o “bem”.
Com duas imagens nas mãos, o premier israelense apresentou o que chamou de “mapa da maldição”, com o Oriente Médio destacado em preto, como pretenderia o Irã. O outro, pintado de verde, com uma seta vermelha do Oceano Índico até o Mar Mediterrâneo, Netanyahu apelidou de “mapa do futuro de esperança”.
Netanyahu criticou o Tribunal Penal Internacional por decisões que condenam líderes israelenses, avançou que só haverá paz em Gaza se o Hamas se render, depuser as armas e devolver os reféns israelenses, e afirmou que vai prosseguir com os bombardeios no Líbano.
“Escudos humanos” para justificar matança de civis
Contrariando as imagens exibidas diariamente nas TV do mundo inteiro, o primeiro-ministro afirmou que “Israel está levando 700 toneladas de alimentos (3000 calorias por dia) a homens, mulheres e crianças de Gaza”. E ainda acusou o Irã de financiar muitas das manifestações que ocorrem contra Israel.
Para explicar os recentes bombardeios ao Líbano, com mais de 700 mortos e milhares de feridos em menos de uma semana, Netanyahu apelou ao mesmo argumento dos “escudos humanos”, que Israel tem usado para justificar o massacre de civis em Gaza: “Disparam (o Hezbollah) seus foguetes e mísseis não só de plantas militares, mas de escolas, hospitais, edifícios residenciais e de casas de cidadãos libaneses. Põem em perigo sua própria população.”
“Enquanto o Hezbollah optar pelo caminho da guerra, Israel terá todo o direito de eliminar essa ameaça e devolver os seus cidadãos às suas casas”, referindo-se aos cerca de 60 mil israelenses que abandonaram povoados ao norte do país.
Chantagem do “antissemitismo”
O primeiro-ministro israelense citou os acordos de Abraão, recentemente negociados entre Israel e a Arábia Saudita, como um instrumento que pode levar a paz, o desenvolvimento e o progresso ao Oriente Médio. No entanto, a delegação saudita também abandonou o plenário da ONU, recusando-se a ouvir Netanyahu.
O mais desastroso do discurso foi deixado para o final. O premier israelense afirmou que existe uma maioria antissemita na ONU, o que permitiria aos palestinos aprovar mais resoluções nas Nações Unidas contra Israel nas últimas décadas do que contra todos os demais países-membros. (Foto principal: Timothy A. Clary/AFP)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fonte:
Íntegra do discurso de Netanyahu na 79ª Assembleia Geral da ONU (tradução em Espanhol)