Glauco Alexander Lima (São Paulo) – O absurdo escárnio do poder legislativo de Porto Alegre-RS, avalizada pelo prefeito daquele município, tentando instituir o dia dos ataques terroristas golpistas de ultra extrema direita em Brasilia, o 8 de janeiro 2023, como dia do patriota, reacende um debate vivo e necessário ao país.
Afinal, o que é um patriota? Quem são os verdadeiros patriotas e que são aos traidores do pátria brasileira?
Ao longo da história, o amor à pátria vinha sendo considerado um simples apego ao solo. Tal noção mudou no século 18, que passou a assimilar noções de costumes e tradições. Ou seja, orgulho da própria história e a devoção a um projeto de estado de bem-estar para todos os que vivem no país.
Ora, num país com 523 anos de história, se contarmos desde a invasão portuguesa em 1500, onde uns 350 anos desses 523 foram de escravidão de seres humanos negros, é difícil ter orgulho da historia do Brasil. Ainda mais porque o típico patriota não costuma ver defeitos em seus pais. E fica mais difícil ainda não ver defeitos, quando lembramos o que foi feito com os povos originários e o que ainda sofrem os indígenas.
Na real mesmo, talvez só quem esteve sempre na casa grande, decidindo quem ia ou não ia para o tronco, no alto da pirâmide social e do poder econômico, pode ter orgulho dessa história. Mesmo assim, é um tipo de patriotismo ( orgulho da história do país) bem desprezível e ignóbil.
Alguns historiadores e cientistas sociais afirmam que patriotismo prende-se com os deveres morais que temos para com a estrutura política. Como quase todos os conceitos políticos e filosóficos, também o patriotismo é alvo de inúmeras concepções conflitantes que ocorrem num espectro onde tem, num extremo a ideia de que o patriotismo é uma virtude indispensável e, noutro, que é um vício perigoso.
Bem, para resumir, patriota é a pessoa que ama sua pátria, seu país de nascimento, que se esforça para lhe ser útil, agindo em seu favor ou em sua defesa. Mas é sempre bom destacar e se referir a comum sobreposição e confusão com o nacionalismo, lembrando que o nacionalismo está ligado mais a uma ideologia que acredita na existência de características comuns em uma comunidade, e tem o objetivo de controle político e social.
Já o patriotismo se prende com os deveres morais que temos para com a nossa população, todas as pessoas, com a nossa política. Política nesse caso, o estado brasileiro, o espaço de debate, de construção de pátria, os poderes de nossa república, nossa Constituição e não só partidos políticos, eleições ou ocupantes de cargos eletivos.
Mas se o patriotismo é defender o bem-estar da população, a felicidade da pátria, o uso sustentável de nosso meio-ambiente e nosso regramento político para garantir a convivência harmônica de interesses antagônicos, ser patriota num país como o Brasil só pode ser defender a redução de nossa cruel desigualdade. É lutar ou apoiar lutas por um país mais justo, fraterno e não-violento.
Patriotismo à brasileira, útil e urgente para o Brasil é reduzir desigualdades, seja desigualdade econômica, a desigualdade social e desigualdade regional. Isso é patriotismo verde-amarelo. E esse patriota brazuca, que reconhece a redução da desigualdade como nossa grande causa motivadora e unificadora, a desconcentração de renda e poder, é o único valioso para termos um Brasil de paz, alegria e progresso inclusivo. Um patriota valioso que pode ser patriota de direita, de esquerda ou de centro.
O patriota de direita acredita que a perversa desigualdade brasileira se reduz com o a economia de mercado, com a competição entre empresas, com a livre iniciativa, a liberdade econômica e o pagamento de impostos. O patriota de esquerda acredita que só com um estado eficaz, firme, mediador, poderemos reduzir nossas cruéis desigualdades históricas. E o tem o patriota de centro esquerda ou centro direita, que acha que juntando um pouco de um lado com um tanto de outro lado, poderemos criar um ambiente onde o acesso as oportunidade a um projeto de vida seja realmente justo.
Nesse caso, o não patriota, seria quem não reconhece nossas desigualdade, quem diz que a vida aqui tem que ser assim mesmo, que nossa realidade é equilibrada, que não existe fome, miséria ou que a escravidão de seres humanos negros não foi essa tragédia toda. O não patriota acha injusto os super ricos serem taxados e não se revolta com os muito pobres pagando proporcionalmente mais impostos que os bilionários.
Esse é o avesso do patriota, alguém que com posições conservadoras, que conservar, quer manter, não quer mudança, não quer perder ser privilégios pessoais, familiares ou de classe.
Ao querer decretar o 8 de janeiro como dia do patriota, a cidade de Porto Alegre agiu como um porto triste. Um porto para atracar o pior do entendimento de pátria, de patriotismo e de Brasil. Cabe a todos nós difundir o verdadeiro patriotismo e evitar novas insanidades como a de Porto Alegre.
E o se termo já está desgastado, associado ao um olhar perverso do mundo, é hora de criar no nosso termo brasileiro para patriota, que pode ser qualquer algo vindo da genial criatividade brasileira, de nossa inventividade, nossos afetos, nossas inteligências, nossa solidariedade humana, nosso amor pelo trabalho, pela poesia e pela vontade de escrever uma história mais humana para o Brasil. (Foto: Reprodução)