O Brasil que esqueceu quem foi

(*) Rodrigo Vargas      –    A camisa Amarela pesa. Sempre pesou. Mas, ultimamente parece que se tornou impossível de ser vestida por uma geração de jogadores sem brio e honra para usá-la.

Na terça-feira à noite, em Buenos Aires, o que se viu foi um Brasil irreconhecível – ou pior, um Brasil cada vez mais reconhecível em sua fragilidade e desorganização futebolística. Uma derrota por 4 a 1 para a Argentina poderia ser apenas mais um tropeço, um acidente de percurso. Mas foi o retrato de uma Seleção sem alma, sem identidade, sem comando.

A verdade é que a Seleção Brasileira já não impõe mais respeito. A mística do amarelo vibrante, outrora temida, agora se tornou um pano comum, facilmente amassado por qualquer adversário com organização e fome de vitória.

Houve um tempo em que vestir a camisa da Seleção Brasileira era carregar um legado. Romário era temido por zagueiros e goleiros do mundo todo. Ronaldo Fenômeno não foi parado nem mesmo por inúmeras lesões e nos trouxe o penta. Rivaldo decidia jogos com uma canhota de precisão cirúrgica. Ronaldinho Gaúcho transformava o futebol em espetáculo, arrancando aplausos de estádios adversários lotados.

O amarelo reluzia como ouro de tantas conquistas, e o mundo sabia: era melhor respeitar.

Mas o que se viu em Buenos Aires, foi o retrato de uma Seleção que desaprendeu a ser temida. A Argentina não apenas venceu – humilhou. Um 4 a 1 impiedoso, uma aula de imposição, uma lição de quem hoje sabe o que é jogar com orgulho.

Dias antes, Raphinha tentou inflamar o time. Disse que era preciso “dar pau neles”. Mas quem saiu espancado foi o Brasil – não só pelos argentinos, mas pela realidade. Uma realidade dura, cruel, inegável: a camisa que já causou calafrios aos adversários, hoje causa paralisia em quem a veste.

Se formos listar os problemas, a lista é extensa: técnicos, táticos, psicológicos, institucionais. A Seleção não é apenas um time em crise. É um símbolo decadente de uma Confederação caótica, de um futebol nacional que já foi referência e hoje se perde entre vaidades e amadorismo.

A pergunta que fica para o torcedor brasileiro é simples e dolorosa: quando foi que deixamos de ser gigantes?

E o pior, se nada mudar e rápido, a resposta pode ser ainda pior: quando foi que nos acostumamos a perder?

(*) Rodrigo Vargas  é jornalista exercendo atividades em Brasília.

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