Duas a três semanas após o falecimento do Papa Francisco, mais de 130 cardeais se encontrarão na Capela Sistina, em Roma, para dar início ao conclave que escolherá o novo líder da Igreja Católica. Este evento ocorrerá com portas fechadas e, conforme a tradição, será iniciado com a ordem “extra omnes” — uma expressão em latim que determina a saída de todos os não votantes. O intuito é proteger os eleitores de influências externas, no entanto, o intervalo entre a morte do pontífice e o começo do conclave cria um espaço para especulações e tentativas de intervenção.
Segundo o periódico italiano Corriere della Sera, adversários de Francisco têm se movimentado há anos para moldar o processo de sucessão. Com o crescimento das redes sociais, essas ações assumiram novas características, tornando-se mais sutis e complicadas de serem identificadas. Rumores, conteúdios sem autoria e campanhas coordenadas visam potenciais concorrentes ao legado de Pedro.
O periódico recorda que, em 2013, quando Jorge Mario Bergoglio estava entre os candidatos para ocupar a posição após a renúncia de Bento XVI, houve a especulação entre os cardeais de que o argentino teria apenas um pulmão. Durante o conclave, ele precisou esclarecer que, aos 21 anos, havia perdido apenas uma parte do pulmão direito devido a cistos, mas que isso não afetava sua saúde.
Hoje em dia, as táticas ultrapassam os limites. Falsidades relacionadas a doenças, alegações de corrupção ou negligência em situações de abusos sexuais têm sido empregadas para desestabilizar certas figuras. O Corriere destaca que o papado de Francisco se deparou com uma oposição estruturada, principalmente oriunda de grupos conservadores da Igreja nos Estados Unidos.
Em 2019, o jornalista Nicolas Senèze lançou uma obra que expõe estratégias organizadas para impactar eleições papais futuras. Com o título “Como a América quis mudar o Papa”, o livro revela a existência de um projeto denominado “Red Hat Report”, que tinha como objetivo a elaboração de relatórios minuciosos sobre cada cardeal com direito a voto. Essa iniciativa teria recebido recursos de financiadores associados à ala conservadora do catolicismo nos Estados Unidos.
A publicação italiana também menciona que algumas dessas iniciativas buscaram modificar as biografias de cardeais na Wikipédia. “Se tivéssemos realizado essa ação anteriormente, talvez o Papa Francisco não estivesse aqui”, teria sido a percepção entre os envolvidos, conforme a matéria.
Um outro exemplo mencionado é o de Carlo Maria Viganò, ex-arcebispo que divulgou um documento contendo acusações contra Francisco, referindo-se a ele como “servo de Satanás”. Ele foi excomungado em 2024 por cisma. O conteúdo foi amplamente veiculado por canais associados à rede conservadora dos Estados Unidos EWTN, como o National Catholic Register.
Como reação, o Vaticano tem intensificado seus canais de comunicação, como os portais Vaticannews.va e Vatican.va, visando enfrentar a disseminação de informações falsas. As medidas também levam em conta a ameaça de ataques cibernéticos nos dias que precedem o conclave.
Nas eleições na Capela Sistina, os cardeais são proibidos de usar telefones celulares ou dispositivos de computação. Contudo, até que o procedimento comece, eles permanecem suscetíveis a influências e barulhos do ambiente externo.
Na imagem destacada, cena do filme “Conclave”. (Foto: Reprodução)
Com dados da Reuters