Por Henrique Acker – Desde que o Conselho Constitucional reiterou em 23 de dezembro a vitória de Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), nas eleições presidenciais ocorridas em outubro, uma nova onda de protestos atinge Moçambique.
Nos últimos dias, o caos tomou conta de cidades como Beira e Nampula e na periferia de Maputo, capital do país, com pilhagens e barricadas nas ruas. A polícia reprimiu as manifestações e já se contam 252 mortos e mais de quatro mil detidos. Soma-se a isso a fuga de cerca de 1.500 presos da cadeia central de segurança máxima.
Às noites, registram-se saques a mercados, armazéns de estoques de alimentos e incêndios de estabelecimentos comerciais, além da vandalização de equipamentos públicos. Parte da população tem reagido de forma a conter a violência, formando grupos para patrulhar os bairros. Há um temor de que os saques possam causar desabastecimento no país.
Resultado oficial
De acordo com o Conselho Eleitoral, Daniel Chapo teria conquistado 65% dos votos, contra 24% de Venâncio Mondlane, inscrito como candidato do Podemos. Ossufo Momade, da Renamo, obteve 6,62%, enquanto o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, conquistou 4,02% dos votos.
A presidente do Conselho Constitucional também confirmou uma maioria para a Frelimo no parlamento do país, com mais de dois terços dos deputados. O partido do governo também conseguiu a maioria nas dez províncias do país.
Os grupos de defesa dos direitos humanos criticaram as autoridades moçambicanas pelo que consideram uma repressão brutal contra protestos que começaram pacíficos e contestavam o resultado das eleições.
Convocações pela internet
Apesar da Frelimo e o próprio presidente eleito declararem estar abertos a uma possível negociação com as oposições, Mondlane mantém a contestação do resultado eleitoral e insiste em convocar novas manifestações contra o regime.
De acordo com o jornal Dossiers & Fatos, Venâncio Mondlane “lançou reiterados apelos aos manifestantes para que não saqueiem bens privados e solidarizou-se com os empresários, referindo-se a estes como “vítimas [do sistema] e não culpados” pela crise pós-eleitoral.”
O ex-candidato de oposição também criticou o presidente e o primeiro-ministro de Portugal por terem reconhecido o resultado oficial da eleição, alegando que o candidato da Frelimo teria sido proclamado com base em “resultados falsificados”. Ele se mantém fora do país, temendo represálias do governo.
Pastor de direita
Em julho, num giro pela Europa, Venâncio Mondlane encontrou-se com representantes do Chega, partido de extrema-direita em Portugal. Em agosto, Mondlane elogiou Jair Bolsonaro, “homem de família, de valores, de princípios que solidificam e são uma grande esperança para o Brasil”.
Mondlane foi dirigente da Renamo, grupo nacionalista de direita que protagonizou a guerra civil de mais de dez anos contra a Frelimo. Mais tarde, a Renamo aceitou participar da vida política e disputar eleições como um partido de oposição.
Deputado eleito, Mondlane rompeu com a Renamo e formou a Coligação Aliança Democrática (CAD), mas sua candidatura foi vetada, o que o levou a um acordo para disputar a eleição presidencial deste ano pelo Podemos.
Além de engenheiro de formação, Mondlane foi parlamentar desde 2015, comentarista de TV e é pastor da Igreja Evangélica Ministério da Divina Esperança.
Governo brasileiro pede diálogo
Numa nota à imprensa publicada em 26 de dezembro, a Embaixada do Brasil em Moçambique expressa preocupação sobre os últimos acontecimentos naquele país.
“O Brasil exorta, tanto o novo governo quanto a oposição, à máxima contenção e ao diálogo sem prerrequisitos, com vistas a garantir a paz, a estabilidade e os valores democráticos, e impedir o prosseguimento da violência pós-eleitoral”, pondera a representação oficial do governo brasileiro em Moçambique.
Por Henrique Acker (Correspondente Internacional)
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