O que é melhor? Falar de comida, fazer ou comer?
Um projeto cultural vai fazer as três coisas, contando a história da Marabá pelo olhar… da cozinha.
É o Projeto Panela Histórica, que vai contar a história de uma das gastronomias mais ricas do país, pois reúne as heranças culturais dos povos que a formaram: libaneses, nordestinos, goianos e, claro, dos indígenas que já habitavam a região quando os migrantes e imigrantes começaram a chegar.
Ao longo de mais de 500 anos, esses povos construíram uma história gastronômica rica, típica e saborosa.
Temperos típicos desses pratos, que antigamente eram plantados nos quintais das casas: coentro, cebolinha, couve, pimentão e o tomate. O jambu, a chicória, as pimentas, principalmente a de cheiro. O quiabo, as vinagreiras (ingrediente do arroz de cuxá – prato maranhense). A comida com base de azeite ou o leite de coco babaçu (de origem maranhense), o leite de castanha e o tucupi extraído da mandioca.
Todos esses elementos – e mais alguns – estarão nos produtos do Panela Histórica.
“Do projeto, sairão três produtos: um livro, um filme em média metragem e uma feira gastronômica. O livro pretende apresentar as memorias gastronômicas do povo marabaense, mostrando sua história e suas raízes, reforçando seus costumes para as novas e futuras gerações. O filme em média metragem trará um registo audiovisual dessa viagem ao tempo e aos sabores, apresentando pequenos recortes dos momentos mais sensíveis da construção do livro, como entrevistas, receitas e depoimentos. Já a Feira Gastronômica será o momento sensorial do projeto, apresentando ao público, num grande evento em Marabá, as comidas e receitas que fazem parte do Panela Histórica”, explica a jornalista Liane Gaby, idealizadora do projeto “Panela Histórica”.
Cinco jornalistas paraenses têm a responsabilidade de contar essa história: Hiroshi Bogéa, Clara Gaby, Júnior Braga e Pascoal Gemaque.
A idealização e coordenação do projeto é de Liane Gaby.
Alguns dos pratos que farão parte do projeto estão sendo selecionados, mas a gente faz um spoiler pra você: Arroz Maria Izabel, tucunaré ao leite de Castanha do Pará, cozidão de bagre, arroz-doce, bolo cabeça de negro, mungunzá, torta de castanha, arroz árabe, frango Árabe, charuto, mudárdara (feito de lentilha),cCarneiro assado ou guisado, bolo cacete, bolo frito, bolinho de arroz, “oreias” fritas (“oreias de macaco”), paçoca de carne de sol, ,coalhada de leite cru, pamonha
Marabá é um dos mais ricos e populosos municípios do estado do Pará. A descoberta de riquezas naturais (Castanha-do-Pará) e minerais (ouro, ferro e cobre) trouxe à região ao longo do tempo povos das mais diversas origens.
A culinária marabaense e sua linha da miscigenação – a autenticidade indígena, somando as influências de outros estados, como Maranhão e Tocantins, que antigamente era parte do Goiás. Os primeiros moradores de Marabá, em seu isolamento em relação à capital do Estado, dependendo do transporte fluvial para receberem aquilo que não podiam produzir, aproveitaram de todas as formas os recursos da floresta e dos rios, principalmente da ligação fluvial com o Maranhão, para criar a sua própria identidade alimentar.
Na imagem acima, um dos pratos mais apreciados na mesa do marabaense é o arroz Maria Isabel.
De origem nordestina, mais precisamente piauiense, o prato mistura ingredientes como carne de sol dessalgada, pimenta-de-cheiro, pimentão e folha de louro.
Conta a tradição que a origem da receita e do nome Maria Isabel começa a partir de Simplício Dias da Silva, um rico comerciante, fazendeiro e grande proprietário de escravos, que se tornou um dos homens mais poderosos do litoral piauiense.
Simplício herdou do pai as charqueadas e como era criador de gado, o couro ele exportava e com a carne fazia o charque.
A mistura com o arroz foi uma coisa natural que ocorreu entre os escravos, e para homenagear o poderoso senhor, o prato levou o nome da esposa de Simplício, que se chamava Maria Isabel, trazida para Marabá pelos milhares de nordestinos que para cá buscavam novas oportunidades de negócios ou eram contratados para trabalhar nos períodos extrativistas da borracha, castanha e extração de diamantes.
O trabalho de pesquisa que a equipe de Liane Gaby está realizando permitirá manter vivos a memória afetiva do povo de Marabá e suas tradições, através da culinária influenciada ao longos dos anos. (Foto; Reprodução)