Neonazistas têm plano para a limpeza étnica da Alemanha

Henrique Acker (correspondente internacional)    –   “Remigração”. Esse é o termo usado por cerca de 30 representantes de setores da extrema-direita alemã para batizar seu plano de limpeza étnica do país. A proposta atingiria os requerentes de asilo, os estrangeiros com direito de permanência  e “cidadãos não assimilados” na Alemanha.

O plano consistiria em expulsar da Alemanha todas as pessoas que supostamente tivessem a “cor de pele ou origem errada”, mesmo sendo cidadãos alemães. Esse foi o tema central do encontro realizado em 25 de novembro de 2023, no Landhaus Hotel, em Potsdam.

 

Parlamentares, neonazis e empresários

O grupo, denominado “Fórum de Dusseldorf”, além de congregar assessores do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), conta com a participação de empresários e conhecidos neonazistas. Seu objetivo é executar o plano em dez anos. A denúncia foi publicada pela revista digital CORRECTIV, que infiltrou um jornalista no mesmo hotel da reunião.

Do evento participaram Roland Hartwig (braço direito da líder da AfD, Alice Weidel), Gerrit Huy, membro do Parlamento, Ulrich Siegmund, líder do grupo parlamentar da AfD no estado da Saxônia-Anhalt e Tim Krause, vice-líder do mesmo partido no distrito de Potsdam.

Entre os principais oradores destacaram-se  Martin Sellner, um ativista extremista de direita da Áustria, e Mario Müller, um conhecido criminoso violento já condenado. O evento contou ainda com empresários e membros de algumas organizações simpatizantes, que contribuíram financeiramente para a sua realização.

 

Resposta nas ruas

Durante o fim de semana de 20 e 21 de janeiro, centenas de milhares de pessoas estiveram reunidas em cerca de 90 cidades alemãs, em protesto contra a AfD, depois que a revista digital CORRECTIV publicou matérias sobre o encontro de Potsdam.

Em entrevista ao jornal “Financial Times”, Alice Weidel, principal liderança da AfD, defendeu que se a União Europeia não se reformular para dar mais soberania aos estados-membros, um referendo para a saída do país é uma opção que vai defender se vier a governar a Alemanha, assim como ocorreu na Inglaterra (Brexit).

Neste momento, o Alternative für Deutschland (AfD) tem entre 20% e 23% das intenções de voto em nível nacional, e é a força mais expressiva em estados federais como a Saxônia ou a Turíngia, com mais de 30 por cento da preferência do eleitorado, bem à frente de partidos tradicionais, como a CDU, o SPD e os Verdes.

 

Legalização ou cassação

A Alemanha está envolvida num debate sobre a possível cassação do registro da AfD, algo que a Constituição permite no caso da adoção e difusão de ideias nazistas. No entanto, muitos analistas acreditam que a adoção dessa medida seria pouco provável pelo Tribunal Constitucional.

O tema suscitou polêmica na Europa, sobretudo a partir dos anos 90, quando vários grupos ultradireitistas voltaram ao cenário social e político. Parte dos analistas defende que a legalização de partidos de extrema-direita seria uma forma de submeter seus líderes, militantes e instâncias ao controle e vigilância do Estado democrático.

Já outro setor argumenta que esses grupos jamais vão se submeter aos limites da vida democrática, representando um sério risco à própria democracia. O principal mote de reorganização de partidos de extrema-direita na Europa está ligado à xenofobia e o combate a imigração no continente. (Foto: REUTERS)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)  

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A equipe CORRECTIV:   

Texto e pesquisa: Marcus Bensmann, Justus von Daniels, Anette Dowideit, Jean Peters, Gabriela Keller

Design: Charlotte Eckstein, Maximilian Bornmann, Mohamed Anwar

Comunicação: Luise Lange-Letellier, Valentin Zick, Esther Ecke, Elena Schipfer

Checagem de fatos: Elena Kolb

Colaboração : Jonathan Sachse, Gesa Steeger, Pia Siber, Finn Schöneck, Tobias Hauswurz

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