Henrique Acker (correspondente internacional) – Ao apresentar seu “Plano de Vitória” ao Conselho Europeu, o presidente da Ucrânia deixa claro seu objetivo: derrotar militarmente a Rússia. Ao invés de anunciar um caminho para a paz, o plano de Zelensky visa ampliar a guerra e impor ao inimigo condições que favoreçam os objetivos de Kiev e do Ocidente.
Daí a necessidade de acelerar a liberação dos 40 bilhões de euros prometidos pela União Europeia e dos 400 milhões de euros anunciados pelos EUA. O importante para o governo da Ucrânia é reverter a condição desfavorável em que se encontra no campo de batalha. Assim, Zelensky acredita ser possível chegar à paz até o final de 2025.
Plano para insistir na guerra
O “Plano de Vitória” consiste em cinco pontos anunciados e outros três “secretos”. Não se sabe bem o motivo de cláusulas secretas, o que soa estranho. Vamos a eles:
- Adesão da Ucrânia à OTAN – Essa é a principal questão de discórdia entre Moscou e Kiev, desde que o governo eleito pró-Rússia foi derrubado em 2014, com apoio dos EUA. A adesão de qualquer nação à OTAN permite a instalação de bases militares e armamento de longo alcance em seu território. Para se ter uma ideia, os mísseis balísticos do Irã percorreram cerca de 1.800 km em apenas 12 minutos para alcançarem território israelense, no ataque de 1 de outubro deste ano. A distância em linha reta entre Kiev (capital ucraniana) e Moscou é de 750 km.
- Manter a frente de guerra em território russo e recusar negociar territórios ucranianos – Neste ponto, Zelensky insiste na campanha militar contra a região de Kursk, em território russo. Da mesma forma, nega qualquer possibilidade de ceder qualquer parte do território ucraniano, nem mesmo como territórios “tampão” ou desmilitarizados, entre os dois países.
- Reforço do armamento ucraniano – inclui o pedido de mais mísseis de longo alcance, o apoio das potências ocidentais na defesa da Ucrânia e para o lançamento contra território russo, o que significa a entrada da OTAN diretamente no conflito.
- Exploração dos recursos minerais da Ucrânia em conjunto com a UE e os EUA – a Ucrânia possui grandes reservas minerais de urânio, titânio e lítio, que seriam dadas como uma espécie de contrapartida econômica aos seus aliados.
- Nova arquitetura de segurança para o Leste da Europa – Zelensky propõe que, ao final do conflito, todo o conhecimento acumulado pelas tropas ucranianas sirva de estímulo para um novo plano de segurança dos países da região, visando ao patrulhamento das fronteiras com a Rússia.
Pouco entusiasmo
Nem o governo Biden, nem os candidatos à Presidência dos EUA – Kamala Harris (democrata) e Donald Trump (republicano) – manifestaram apoio ao plano ucraniano. O assunto é tratado com reservas em Washington, até pela proximidade da eleição presidencial, em 5 de novembro.
O mesmo se pode dizer dos dirigentes da União Européia (com exceção da Lituânia e da Inglaterra), na reunião do Conselho Europeu, que se realiza em Bruxelas de 17 a 18 de outubro.
O novo secretário-geral da OTAN, o ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, recebeu a proposta de Zelensky e descartou para já a adesão da Ucrânia à Organização.
“Desastre para o povo ucraniano”
A única promessa dos EUA e da UE é de apoio à Ucrânia. É nesse fio de esperança que Zelensky se agarra para manter acesa sua pretensão de derrotar a Rússia e chegar à paz, o que calcula ser possível alcançar até o final de 2025.
No entanto, a realidade dos últimos meses do conflito mostra o avanço dos exércitos russos nos territórios do Donbass e uma estagnação das tropas ucranianas na região de Kursk, na Rússia. Ou seja, uma situação amplamente desfavorável à Ucrânia.
Ao comentar a proposta de Zelensky, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou que o plano provocaria um desastre para o povo ucraniano. “Ele está empurrando a OTAN para um conflito direto com nosso país”, concluiu Zakharova. (Foto principal: Presidente da Lituania, Volodomyr Zelensky, primeiro-ministro belga e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Crédito: EPA)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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