Não ata nem desata

Cá entre nós – Henrique Acker

 

1- Não ata nem desata

Até agora, passados mais de dez dias, não foram divulgadas as atas das mesas de votação da eleição presidencial venezuelana de 28 de julho. O que há são supostas atas divulgadas numa página na internet pela oposição de extrema-direita e um processo aberto pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Venezuela, a pedido de Nicolás Maduro, para uma investigação do processo eleitoral.

Acerca dos materiais divulgados pela oposição existem diversos estudos e análises, alguns favoráveis outros com diversas restrições. A fragilidade dos argumentos da oposição de extrema-direita reside no fato que seu candidato se nega a comparecer à Justiça e a entregar as atas oficiais que estão em sua posse para uma investigação, juntamente com os demais partidos.

Os resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ainda carecem, portanto, de comprovação. Alega o CNE que foi alvo de um processo de invasão de sua página por hackers, o que dificultaria a apresentação de todo o material eleitoral. No entanto, o próprio STJ confirmou já ter recebido o material do CNE.

Não se duvida da intensão da extrema-direita. Desde 2002 ela mesma vem anunciando seus métodos de combate: golpe de Estado, denúncia de fraude sem provas, boicote às eleições, pedido de boicote econômico contra o país e até intervenção militar de seus aliados.

Tampouco há motivos para acreditar cegamente no governo e num resultado eleitoral que carece de comprovação, ainda que o CNE tenha autoridade para se pronunciar e decretar o resultado com base nos dados de que dispõe.

Será preciso acompanhar e aguardar o processo de apuração da Justiça venezuelana para que se possa concluir se a vitória de Maduro, confirmada pela CNE tem, de fato, base concreta. Seja como for, essa será apenas mais uma batalha da disputa pelas maiores reservas de petróleo do mundo, motivo principal da guerra na Venezuela desde que o país escolheu um caminho de independência em relação a Washington.

 

2- “Banditismo violento” na Grã-Bretanha e na Venezuela

Há uma semana grupos de extrema-direita vão às ruas da Grã-Bretanha, promovendo tumultos e quebra-quebra em hoteis de residentes imigrantes e até mesquitas. A violência foi provocada por uma notícia falsa difundida nas redes sociais, que ligava um imgrante ao assassinato de três meninas.

O governo britânico imediatamente passou a reagir e destacou mais de seis mil efetivos policiais para reprimir violentamente as manifestações e prender os valentões. Já são cerca de 600 detidos e 150 indiciados por crimes que o primeiro-ministro definiu como “banditismo violento” da extrema-direita.

E na Venezuela? É tão diferente? Ou alguém acredita que os manifestantes da extrema-direita por lá estão mesmo preocupados com “liberdade e democracia”? Há inúmeras imagens de ataques a centros eleitorais, quebra-quebra, incêndios e até de grupos armados com ameaças a militantes chavistas.

O governo decidiu enfrentar a violência dos grupos de extrema-direita com a mesma força empregada pelo governo britânico. A diferença é que são cerca de dois mil presos, muitos com armas de fogo e pertencentes aos chamados “comanditos” da campanha de Edmundo Gonzalez. Há denúncias de mortos em confrontos, mas isso ainda está por ser comprovado.

No centro dos episódios está sempre a difusão de notícias falsas por influenciadores que as espalham na internet, usadas para insuflar as hordas do ódio. O maior deles é o senhor Elon Musk, o milionário sulafricano que é dono da rede X (ex-Twitter). O mesmo que foi denunciado no caso das manifestações violentas da extrema-direita na Grã-Bretanha.

Coincidência ou só um acaso?

 

Coluna de Henrique Acker (10 agosto/24)

 

 

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