O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas diretas ao chefe da nação americana, Donald Trump, durante a abertura de um encontro bilateral com o governante russo Vladimir Putin, realizado no Kremlin, em Moscou.
“Os recentes anúncios do presidente dos Estados Unidos sobre a imposição de tarifas comerciais de maneira unilateral a todos os países comprometem a essência do livre comércio, prejudicam a promoção do multilateralismo e frequentemente desrespeitam a soberania das nações, algo que devemos valorizar”, declarou Lula, recebendo em resposta a concordância do líder russo.
Lula afirmou que essas ações unilaterais arruinaram os anseios de diversas nações no período pós-Segunda Guerra Mundial – uma época em que, de acordo com o brasileiro, havia a expectativa de que se promovesse “o fortalecimento do multilateralismo, o fortalecimento da ONU e a expansão do comércio livre”.
“Pensávamos que essas eram situações que ocorreriam com o objetivo de proporcionar ao mundo um nível de paz que, atualmente, não observamos”, declarou.
As observações foram apresentadas na seção pública da conferência, logo no começo do evento. O dirigente da Rússia se pronunciou antes de Lula e destacou a importância das relações entre as duas nações.
Putin sustentou a importância do multilateralismo, ressaltando que Brasil e Rússia têm a oportunidade de fortalecer sua colaboração política e estratégica por meio de diversos fóruns, incluindo o G20, os Brics e a ONU.
Lula esteve em Moscou para integrar uma imponente cerimônia militar celebrando os 80 anos da conquista da antiga União Soviética e das nações aliadas sobre a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
De acordo com o próprio Itamaraty, os principais propósitos da viagem eram abordar a promoção do multilateralismo, as parcerias comerciais entre os países e a situação da Ucrânia, na qual o presidente brasileiro almeja atuar como um intermediário na solução do conflito.
Além de criticar Trump e defender o multilateralismo, Lula abordou em sua fala questões relacionadas ao comércio, destacando que o Brasil possui diversos interesses na Rússia, assim como a Rússia tem os seus no Brasil.
Ele afirmou que há uma grande oportunidade de aumentar as vendas de produtos do Brasil para a Rússia.
O presidente, por outro lado, não mencionou a disputa na Ucrânia durante a fase pública do encontro.
Esse é o ponto mais polêmico da viagem, visto que grande parte do Ocidente ainda se esforça para marginalizar Putin na esperança de alcançar algum tipo de acordo de paz.
Os cidadãos ucranianos expressaram sua desaprovação em relação à viagem a Moscou, declarando à CNN Brasil que isso indica um alinhamento de Lula com Putin no confronto, o que resultaria na perda de sua credibilidade para desempenhar o papel de intermediário.
O Itamaraty optou por não se manifestar diante das recentes acusações de Kiev.
Uma fonte oficial do governo, entretanto, confirmou que nenhuma das críticas alterará a postura do Brasil em relação ao conflito. (Foto: Reprodução)
