Por Henrique Acker – Nas últimas semanas, o mundo acompanha com esperança as trocas de reféns e prisioneiros entre o Hamas e Israel, em meio a um cessar-fogo frágil na Faixa de Gaza. No entanto, o noticiário internacional praticamente ignora que tropas israelenses realizam há mais de um mês uma operação militar em territórios palestinos no Norte da Cisjordânia.
Os ataques têm como alvos os campos de refugiados, onde residem milhares de palestinos que foram forçados a deixar suas casas em outras ofensivas israelenses. Os mais atingidos são Jenin, Tulkarm e Nour Shams, cujos moradores são obrigados a deixar suas casas em meio a invasões de domicílio e incêndios.
Até agora, segundo dados de um relatório da ONU, cerca de 40 mil moradores abandonaram a região. As IDF entram com blindados e escavadeiras, que são usadas para arrasar as instalações de energia, água e até as ruas e calçadas.
ONU denuncia “força excessiva”
O informe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), publicado em 24 de fevereiro, alerta que “mais uma vez táticas de guerra letais estão sendo aplicadas, incitando receios sobre uso de força excessiva” nos territórios ocupados por Israel na Cisjordânia.
A ofensiva militar israelense em Gaza já provocou em torno de 48 mil mortes, com 110 mil feridos e dois milhões de desabrigados, enquanto na Cisjordânia foram registradas as mortes de 870 palestinos, com 6.700 feridos e dezenas de presos arbitrariamente.
Cerca de 12 mil moradores tiveram que abandonar o campo de refugiados de Tulkarm nas últimas semanas, onde 26 prédios foram demolidos. Em Nour Shams cerca de 5000 pessoas foram expulsas e 11 casas derrubadas, segundo relato de um correspondente da Agência Palestina de Notícias Wafa na região.
Estima-se que outras três mil famílias foram deslocadas à força do campo de refugiados de Jenin nos últimos dois meses. Os moradores que resistem enfrentam dificuldades com o abastecimento de alimentos e água.

Apoio do governo Trump
A Cisjordânia — território designado para um futuro Estado palestino — permanece sob ocupação de Israel desde 1967, apesar da ilegalidade ser reconhecida pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, além da Assembleia Geral das Nações Unidas.
O novo presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Brian Mast, deputado republicano da Flórida, ordenou a oficiais e funcionários do órgão a adotar o termo colonial hebraico “Judeia e Samaria” para se referir à Cisjordânia ocupada.
A orientação segue a determinação do governo Trump, que decidiu usar o termo “Golfo da América” para nomear o Golfo do México. Em fevereiro, o parlamento israelense (Knesset) avançou em uma moção de natureza colonial para renomear a Cisjordânia como “Judeia e Samaria”.
ONG israelense confirma
Com a cobertura das tropas de Israel, 60 postos avançados ilegais foram instalados na Cisjordânia ocupada só em 2024, revelou em 24 de fevereiro a Navot, uma organização israelense que monitora a política fundiária de Israel no território palestino ocupado.
“Muitos dos novos postos avançados têm poucos colonos, às vezes menos de dez. No entanto, eles estão tomando grandes áreas e estabelecendo infraestrutura lá, com o objetivo de permitir que mais colonos cheguem no futuro”, revelou Dror Atkes, CEO da Navot.
A ofensiva contra campos de refugiados na Cisjordânia não tem prazo estabelecido. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, instruiu o exército a se preparar para uma “presença estendida nos campos limpos para o próximo ano, e não permitir o retorno de moradores”.
Na imagem destacada, exército de Israel usa tratores para destruir tudo que encontra pela frente nos campos de refugiados palestinos da Cisjordânia. (Foto: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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