O empresário Carlos Toledo, conhecido como Cacai, foi apontado na denúncia inicial, apresentada em dezembro de 2023, como autor intelectual do crime, efetivado por policiais militares, segundo a denúncia.
Escobar acusava Cacai de desvios de recursos e de ter feito caixa dois na campanha de 2018. Cacai, depois da eleição, assumiu a presidência da Companhia de Desenvolvimento do Estado de Goiás (Codego), cargo que deixou após uma operação policial no órgão.
A denúncia apresentada em dezembro diz que “após o término das eleições de 2018, Fábio Escobar, inconformado com o descumprimento da proposta de cargo feita por “CACAI”, passou a divulgar nas redes sociais e imprensa local notícias de condutas reprováveis envolvendo Carlos César Savastano de Toledo”.
O MP diz que “o denunciado Carlos Toledo revoltou-se com as acusações lançadas por Fábio Escobar, manifestando, frequentemente, a pessoas próximas, seu desejo ativo por vingança”.
Essa primeira denúncia mencionava o primo de Ronaldo Caiado, mas não o incluía como acusado da trama. Acusava formalmente Cacai e três policiais. Diz inclusive que um deles matou sete pessoas posteriormente como “queima de arquivo” para evitarem serem pegos.
O aditamento à denúncia desta semana o acusa formalmente de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e emboscada). O documento detalha ainda idas de Jorge Caiado para tratar do assunto em órgãos do estado de Goiás e também sugere a motivação política do crime.
Diz, por exemplo, que “o denunciado JORGE LUIZ RAMOS CAIADO, agindo livre e conscientemente, em comunhão de ações e desígnios com o executor do crime e com os demais denunciados, aderindo previamente à intenção homicida, concorreu de forma eficaz para o crime de homicídio contra a vítima Fábio Alves Escobar Cavalcante, eis que prestou apoio moral ao mentor Carlos César Savastano de Toledo, incentivando e reforçando os seus planos de matar a vítima”.
Sua participação teria sido no sentido de ajudar “no planejamento do crime e no aliciamento dos já denunciados”, que são policiais militares, prometendo-lhes “ascensão na carreira militar”.
Os promotores deixam clara a motivação política do crime. “Em razão da gravidade das notícias veiculadas por Fábio Alves Escobar Cavalcante contra seu aliado Carlos César Savastano de Toledo, vulgo “CACAI” e, sobretudo, em busca de garantir que as informações fossem extirpadas de circulação na imprensa, bem como de forma a assegurar a “lisura” do partido político, JORGE CAIADO aderiu ao sentimento de vingança nutrido por Carlos Toledo, passando a prestar-lhe auxílio moral e material na execução de seu desiderato criminoso. Para tanto, JORGE CAIADO, valendo-se de seu prestígio no seio da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) e principalmente de sua proximidade com policiais militares, acompanhado de Carlos Toledo, iniciou peregrinação nos órgãos da referida pasta no sentido de atrair aliados para aniquilar seu desafeto Fábio Escobar”, diz o documento do MP.
Colocam que Jorge Caiado “atuou nas eleições estaduais de 2018, pelo então partido DEM e é reconhecidamente influente na Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO), inclusive participa, ainda que indiretamente, das indicações para ocupação de cargos do alto escalão no âmbito da referida pasta e da entrega de títulos e medalhas, principalmente aos integrantes da Polícia Militar para promoção na carreira”.
A denúncia detalha o caminho percorrido por Jorge Caiado em órgãos de segurança pública do estado de Goiás. Um deles foi a Rotam, onde foi apresentado “um dossiê de Fábio Escobar” e informado que “as ameaças” teriam como pano de fundo dívida referente ao valor investido por Fábio Escobar na campanha”.
Outra na “Casa Militar da governadoria”, quando, “na oportunidade, externaram possíveis desavenças havidas entre Carlos Toledo e Fábio Escobar e solicitaram providências para conter o inimigo”. Ali foi novamente apresentado um dossiê, mas houve orientação do responsável de que “eles nem sequer teriam realizado o registro formal das referidas “ameaças”, de modo que foram orientados a cumprir as formalidades legais”. Ao que ambos teriam declarado “que, em verdade, buscavam o apoio para exterminar Fábio Escobar”.
A vítima teria percebido que estava sob ameaça e encaminhou mensagens de WhatsApp ao próprio governador pedindo desculpas.
Nelas, ele diz a Ronaldo Caiado: “Apaguei tudo da minha rede social. Sei que não tem volta o que fiz. Mas por favor clamando pela minha vida principalmente por causa dos meus filhos. Estou muito assustado. Por favor. Primeira vez que sinto medo na minha vida. Vou cuidar da minha família. Diz isso pro Jorge Caiado. Por favor. Sei que não vai responder, mas peça (…) para me dizer que posso cuidar da minha família tranquilo. Te suplico isso.”
A denúncia diz que “se não fosse o traquejo de JORGE CAIADO e influência com autoridades policiais, Carlos Toledo, por si só, não teria atingido seu desiderato criminoso”. Fala ainda que “os policiais militares envolvidos direta ou indiretamente com o homicídio de Fábio Escobar foram contemplados com promoções por “ato de bravura”, todas envolvendo confronto policial com resultado morte”.
Nesta quarta-feira, a oposição começou a se articular para pedir a demissão de Jorge Caiado dos quadros da Assembleia Legislativa. “Presidente Bruno Peixoto, pelo que me consta, o senhor Jorge Caiado trabalha aqui na Assembleia. Então, presidente, eu acho que não é prudente que tenhamos aqui entre nós uma pessoa que está denunciada numa situação como essa. E sobretudo em uns processos tão difíceis de andar. Isso tem que ser tratado”, disse o deputado Mauro Rubem (PT).
Outro lado
Procurada, a Secretaria de Comunicação do Estado de Goiás encaminhou à CNN a seguinte nota:
“É imprescindível para o Poder Executivo Estadual não emitir opinião e muito menos interferir no andamento de qualquer processo de investigação policial, garantindo a autonomia e a independência do trabalho da Polícia Civil, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ressalta-se que foi o trabalho de investigação realizado pela Polícia Civil do Estado de Goiás que resultou nas prisões dos agentes de segurança e no prosseguimento da denúncia pelo Ministério Público. Cabe às partes implicadas apresentarem suas considerações dentro do devido processo legal.”
A defesa de Jorge Caiado encaminhou a seguinte nota à CNN:
“O Escritório de advocacia Wanderley de Medeiros, na defesa de Jorge Luiz Ramos Caiado, esclarece que a denúncia oferecida pelo Ministério Público não está acompanhada de documentos que indiquem, de forma robusta, indícios de participação e temos convicção da inocência do nosso cliente.” (Foto: O POPULAR)