Mossad plantou explosivos na divisão de bateria dos pagers

As explosões quase simultâneas de pagers, dispositivo eletrônico usado para a recepção de alertas e mensagens curtas, no Sul do Líbano nesta terça-feira teria sido uma ação da agência de Inteligência de Israel, a Mossad, que plantou explosivos nos compartimentos de bateria dos aparelhos usados pelo grupo xiita libanês Hezbollah, afirmam portais árabes. A ação matou nove pessoas e deixou mais de 2.800 feridos, incluindo centenas de membros do grupo. O incidente, pelo qual a organização e governo libanês responsabilizam Israel, deixou hospitais ao redor do país lotados. O governo israelense ainda não se pronunciou sobre o assunto.

A hipótese dos explosivos também foi levantada por um ex-especialista em munições do Exército britânico à BBC. A fonte, que pediu para não ser identificada, disse que os aparelhos provavelmente continham entre 10 e 20 gramas cada de explosivo de nível militar, “escondidos dentro de um componente eletrônico falso”. Assim, ativados por um sinal (como uma mensagem de texto alfanumérica simultânea), seriam acionados e explodiriam quase ao mesmo tempo.

Ao canal catari, o analista militar e político Elijah Magnier afirmou que o Hezbollah depende fortemente dos dispositivos e especulou que eles tenham sido manipulados antes mesmo de chegarem nas mãos do grupo. Magnier afirma que, pela forma como ocorreram as detonações, os pagers tinham ao menos alguma quantidade de explosivos.

 

— Este não é um sistema novo. Foi usado no passado. Então, neste caso, houve envolvimento de uma terceira parte para permitir o acesso, para ativar as explosões remotamente — explicou.

 

As explosões ocorreram principalmente em áreas do sul do país, no Vale do Bekaa e em Dahyeh, um subúrbio da capital. Segundo relatos de médicos e testemunhas, provocaram cortes profundos em pernas, braços e tórax, além de amputações de dedos — entre os mortos estão os filhos de dois deputados do Hezbollah, Ali Ammar e Hassan Fadlallah, e uma menina de oito anos. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos também relatou explosões na Síria, onde o Hezbollah opera abertamente, deixando ao menos 14 feridos.

 

‘Pareciam tiros’

Populares nos anos 1980 e 1990 no Brasil (e em boa parte do mundo), os pagers são pequenos aparelhos que usam sinais de rádio para receber avisos transmitidos por uma central de chamadas. Segundo a rede catari Al-Jazeera, os combatentes do Hezbollah pararam de usar smartphones desde os ataques do grupo terrorista Hamas no sul israelense em 7 de outubro de 2023, receosos de que Israel pudesse infiltrar os dispositivos. O pedido veio do líder do grupo, Hassan Nasrallah.

Em comentários ao Wall Street Journal, um integrante do Hezbollah afirmou que os aparelhos que explodiram provavelmente faziam parte de um mesmo carregamento recebido pelo grupo nos últimos dias. E que, pouco antes das explosões, os equipamentos esquentaram rapidamente, e que algumas pessoas conseguiram jogá-los longe.

 

— As explosões dos pagers pareciam tiros. Um jovem caiu na minha rua, pensamos que alguém havia atirado nele, não sabemos se houve alguma morte, mas centenas foram afetadas. Ainda há pessoas feridas que não foram resgatadas — disse ao jornal L’Orient Le Jour um morador de Haret Hreik, um subúrbio ao sul de Beirute.

Segundo a agências Reuters, a onda de explosões durou cerca de uma hora. Em comunicado, o Hezbollah afirmou que por volta das 15h30 (9h30 em Brasília), um número de “equipamentos de recepção de mensagens conhecidos como pagers explodiram”, acrescentando “que pertenciam a trabalhadores em várias unidades e instituições do grupo”.

 

Outras hipóteses

Michael Horowitz, chefe de inteligência da empresa de segurança Le Beck International, disse ao Wall Street Journal que as explosões podem ter sido provocadas por um malware, um código ou programa instalado em equipamentos eletrônicos destinado a prejudicar o sistema ou seus usuários. Para Horowitz, o malware pode ter provocado o superaquecimento da bateria, levando à explosão, mas ele concorda com Magnier sobre a provável infiltração na linha de montagem dos pagers.

 

— De qualquer forma, este é um ataque muito sofisticado — disse o especialista ao Wall Street Journal. — Particularmente se for uma violação física, pois isso significaria que Israel tem acesso ao produtor desses dispositivos. Isso pode ser parte da mensagem que está sendo enviada aqui.

Para Emily Harding, ex-analista da CIA para o Oriente Médio, saber onde as vítimas estavam e se as explosões aconteceram exatamente todas ao mesmo tempo ajudaria a traçar um quadro mais claro sobre a forma como a ação ocorreu. Mas ela também aposta na hipótese de dispositivos alterados na cadeia de produção.

 

— Talvez o Hezbollah tenha feito uma atualização de seus pagers, e os novos foram alterados. Então o gatilho deve ter sido algum tipo de sinal — disse à BBC.

 

‘Escalada israelense’

Em declaração, o Conselho de Ministros do Líbano “denunciou veementemente a [agressão] criminosa israelense que representa uma violação significativa da segurança e soberania libanesa” e disse ter “iniciado imediatamente contatos com os países envolvidos e com a ONU para os confrontar sobre suas responsabilidades contra este crime que não conhece limites”. A Chancelaria libanesa condenou, em nota, “esta grave e deliberada escalada israelense, que acompanhou ameaças de expansão da guerra contra o Líbano”, e prometeu levar o incidente ao Conselho de Segurança da ONU “assim que todos os dados forem conhecidos”.

 

Qual será o próximo passo do Hezbollah?

Ao comentar o incidente, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que as explosões foram “muito preocupantes” e que acontecem em um momento “muito volátil”. Mais cedo, Israel anunciou a expansão de seus objetivos oficiais de guerra para que israelenses que fugiram de áreas próximas à fronteira libanesa possam retornar às suas casas, ampliando sua luta de quase um ano contra o Hamas em Gaza para focar no Hezbollah.

O Hezbollah culpa Israel pelas explosões e advertiu que haveria retaliação. “Consideramos o inimigo israelense totalmente responsável por esta agressão criminosa”, disse o grupo em um comunicado, acrescentando que Israel “certamente receberá seu justo castigo por esta agressão pecaminosa”. A televisão estatal iraniana informou que o embaixador de Teerã em Beirute, Mojtaba Amani, sofreu ferimentos “superficiais” em uma das explosões.

Com informação da REUTERS

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