Morre Vladimir Carvalho, um dos maiores documentaristas do Brasil

 

Vladimir Carvalho é o guardião da memória e da história do cinema nacional. Ele estava internado para tratar doença nos rins

 

Vladimir Carvalho, cineasta e um dos nomes mais importantes do cinema nacional, morreu na manhã desta quinta-feira (24). O cineasta de 89 anos sofreu um infarto. O artista sofria de problemas nos rins e estava internado há três semanas. O velório SEÁ realizado no Cine Brasília, nesta sexta-feira (25), a partir das 9h.  Nascido em Itabaiana, na Paraíba, em 1935, Vladimir figurava entre os nomes mais importantes do cinema brasileiro, tendo produzido mais de 10 documentários sobre temas da política e da história nacionais. Filmes como O país de São Saruê (1971), Barra 68 (2000) e Conterrâneos velhos de guerra (1991) estão entre as principais produções do cineasta.

Vladimir teve um infarto em 5 de outubro e foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Santa Helena, onde foi entubado. No entanto, chegou a ser extubado e estava consciente, fazendo hemodiálise e com a perspectiva de sair da UTI em breve, mas o sistema renal parou de funcionar.  Em janeiro, o cineasta comemorou o aniversário de 89 anos no Cine Brasília. Na ocasião, ele exibiu o filme O País de São Saruê, primeiro longa-metragem de sua carreira.

“Estou projetando, neste cinema, o filme O País de São Saruê, que encerra a temporada hoje, celebrando meu aniversário. Esse filme foi feito na década de 1970 e está conquistando uma sobrevida com a nova versão em 4K. Estou muito feliz”, disse Vladimir, à época. O longa-metragem aborda questões relacionadas à seca e à reforma agrária na Região Nordeste.

Ao longo da carreira, fez parte do cinema novo e produziu obras clássicas do cinema nacional, como O Evangelho Segundo Teotônio, Conterrâneos Velhos de Guerra, Barra 68 e Engenho de Zé Lins. Uma de suas obras mais recentes, o documentário Rock Brasília – Era de Ouro (2011), relembrava o sucesso desse gênero musical na capital do Brasil.

Vladimir Carvalho também foi um dos fundadores do curso de cinema da Universidade de Brasília (UnB). Ele chegou ao centro de ensino em 1969, a convite de Fernando Duarte. Como acadêmico e docente, Vladimir encarou o desafio de ensinar cinema durante a ditadura militar, viu o curso ser fechado pela repressão e viveu o período da redemocratização. Em 2012, Vladimir ganhou o título de professor emérito da UnB. No momento do reconhecimento, ele comemorou a conquista.

“O tempo passou num piscar de olhos, como nos filmes de cinema, e aqui estamos nós neste continuado esforço de refundação da UnB. Eu me rejubilo e saio daqui todo me achando e comungando com o velho Camões: ‘Estou em paz com minha guerra’”, falou.

Em nota, o governador Ibaneis Rocha comentou a importância do cineasta para o cinema brasileiro. “O professor Vladimir de Carvalho dedicou sua arte para denunciar injustiças e dar voz aos desassistidos numa época de censura e de perseguição política. Contribuiu para mudar a linguagem cinematográfica brasileira, formou uma geração de aguerridos cineastas, levou e enobreceu o nome de Brasília no cenário cultural internacional. Que Deus receba seu espírito e conforte os familiares e amigos”, afirmou Ibaneis. O Ministério da Cultura também se manifestou sobre a morte de Vladimir. “(…) um dos mais importantes documentaristas do país. Sua obra, voltada à celebração da cultura e da identidade nacional, foi marcada por fortes crenças sociais e se transformaram em uma nova linguagem para o audiovisual brasileiro”, diz a nota.

(Foto: Reprodução)

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