Moradores de Copacabana criam grupos para caçar menores infratores

Grupo se organizou pelo WhatsApp e percorreu ruas da zona sul do Rio com pedaços de pau, tacos de beisebol, soco-inglês e sob escolta de homens armados. Ação de “justiceiros” em resposta aos episódios de violência é desaconselhada por especialistas

 

Após a recente escalada de violência em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, com episódios de assaltos e agressões, moradores do bairro organizam uma espécie de grupo de “força-tarefa” para combater a criminalidade com as próprias mãos. O grupo de “justiceiros” combina estratégias nas redes sociais e prevê até o uso de armas brancas, como pedaços de pau, tacos de beisebol e soco-inglês

Uma série de vídeos publicados nas redes sociais mostram a ação dos homens, lutadores de jiu-jitsu, combinada em grupos de WhatsApp, e percorreram as ruas em bando, sob escolta de homens armados, todos vestidos de preto.  Em uma das imagens aparece a tentativa de linchamento de um dos supostos assaltantes, que é agredido a socos e pauladas pelo grupo. A ação teria ocorrido em Botafogo, também na zona sul. Em outro vídeo, um homem aparece com a cabeça ensanguentada.

Pelas redes, um dos homens convoca para a ação do grupo. “E ai, rapaziada de Copacabana? Qual vai ser? Vamos deixar os caras fazerem o que querem aqui no nosso bairro mesmo? Cadê a nossa rapaziada de 2015 que botou esses caras tudo pra correr?”, indaga o rapaz, lembrando uma ação já ocorrida de “justiceiros” na região.

Professor e mestre em Jiu-Jitsu, Fernando Pinduka foi um dos que convocaram a ação em publicação divulgada no seu perfil no Instagram, com mais de 109 mil seguidores. Na postagem, ele classifica como “limpeza” a violência contra os menores infratores. “Seria fantástico um engajamento das academias e de lutadores da localidade participando dessa ideia, abraçando o projeto de limpeza em Copacabana”, escreveu.

A ação teria sido organizada após um assalto sofrido pelo empresário Marcelo Rubim Benchimol, que levou chutes e socos até desmaiar na Avenida Nossa Senhora de Copacabana ao tentar defender a personal trainer Natália Silva. O ataque aconteceu no sábado (2). O portal G1, da TV Globo, teve acesso às trocas de mensagens nos grupo de WhatsApp, em que os autoproclamados “justiceiros” ser organizam em pelotões para “caçar” – como definem – quem promove assaltos na região.

No grupo, os participantes, a maioria moradores de classe média-alta da região, mostram soco-inglês, pedaços de pau, tacos e afirma que haverá “retaguarda de peça”, em relação a grupos armados que dariam sustentação à ação. “Eu vou partir assim, quebrar osso da cara. Deixar eles [SIC] pior do que eles deixaram o coroa”, disse um integrante do grupo União dos Crias mostrando um soco-inglês.

“Tô pensando em levar umas cordas e fita crepe também. Deixar esses vermes pelados na pista, amarrar uns no poste de exemplo e ‘crepar’ outros iguais múmia”, diz um dos participantes. “É perder muito tempo isso, tem que arrebentar e sair saindo”, responde outro.

O que dizem as autoridades de segurança

A Polícia Civil afirmou que tomou conhecimento da ação dos “justiceiros”, e que diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos. A Polícia Militar do Rio de Janeiro disse que atua na região para prender em flagrante qualquer envolvido em crimes e que possui policiamento reforçado para reduzir os índice criminais do bairro.

“Frequentemente, as unidades operacionais que atuam no bairro fazem ações de revistas e abordagens a pessoas em situação de vulnerabilidade, além de diversas ações que visam coibir o cometimento de roubos e furtos a patrimônio público e privado”, diz a nota enviada à imprensa.

Nos últimos 10 dias, somente em Copacabana, a PM do Rio encaminhou 150 pessoas para delegacias da região e retirou 11 facas de circulação. Quatro pessoas foram presas e seis adolescentes infratores foram apreendidos.

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