Milei cancela ida à cúpula do Mercosul e vai encontrar Bolsonaro

Presidente da Argentina desiste de sua estreia no bloco regional e anuncia viagem a Santa Catarina para reunião da direita, sem encontrar petista. No meio diplomático, é visto como descortesia um chefe de Estado pisar em solo estrangeiro e ignorar o governante no poder

 

 

O presidente da Argentina, Javier Milei, cancelou oficialmente nesta segunda-feira (1º) sua participação na próxima Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, no dia 8 de julho, no Paraguai, na esteira de novo embate com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Presidência argentina confirmou que Milei virá ao Brasil no próximo fim de semana, para participar da reunião da Conferência Política de Ação Conservadora (Cpac), um evento liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que será realizada no balneário de Camboriú.

Milei não vai se encontrar com Lula durante a estada no País. O chefe de Estado de um país pisar em solo estrangeiro e ignorar o governante no poder costuma ser visto como descortesia e até provocação diplomática. Milei vai repetir o que fez em recente viagem à Espanha, em mais um episódio da crise na relação com o país, governado pelo socialista Pedro Sánchez.

Na reunião da Cpac também estarão presentes os dirigentes de extrema direita chileno José Antonio Kast e o mexicano Eduardo Verástegui. O ex-presidente já está confirmado como palestrante. A organização ainda fazia suspense sobre a presença de Milei, embora divulgasse sua relação com o evento, quando a Casa Rosada confirmou a viagem.

Em 2022, ainda como deputado, Milei participou de um encontro do grupo no Brasil. A tensão entre Lula e Milei começou na campanha eleitoral Argentina de 2023, quando o então candidato da ultradireita argentino referiu-se ao presidente brasileiro como comunista e corrupto. Após a vitória de Milei, foram feitos esforços diplomáticos dos dois lados para aparar arestas e o resultado foram vários meses de aparente calma entre os dois principais sócios do Mercosul.

As duas chancelarias organizaram várias reuniões de trabalho, e a ministra das Relações Exteriores argentina, Diana Mondino, fez uma visita oficial ao Brasil. Tudo parecia caminhar sem grandes sobressaltos. Milei teve discussões fortes e públicas com outros presidentes, entre eles o colombiano Gustavo Petro, mas, até agora, evitou atritos com Lula. Os esforços diplomáticos, porém, foram insuficientes para impedir a escalada que começou semana passada.

A frágil paz terminou quando o presidente brasileiro disse, em referência às declarações de Milei de 2023, que o presidente argentino deveria “pedir desculpas ao povo do Brasil e a mim”. A reposta de Milei foi chamar Lula de “esquerdista com o ego inflado”. “Desde quando deve-se pedir desculpas por dizer a verdade?”, perguntou o chefe de Estado argentino.

A Casa Rosada argumenta que Milei não irá à cúpula do Mercosul por problemas de agenda, mas a decisão foi tomada após a troca de farpas com Lula. Até semana passada, a presença de Milei na cúpula de Assunção era dada como certa por funcionários argentinos. Paralelamente, o presidente argentino decidiu ir ao encontro da extrema direita internacional em Camboriú, onde se encontrará com Jair e Eduardo Bolsonaro, entre outros. Ambos participaram da posse de Milei em 10 de dezembro passado, na qual o Brasil foi representado pelo chanceler Mauro Vieira. O filho do ex-presidente esteve recentemente na Argentina e participou de eventos organizados por membros do partido de Milei, A Liberdade Avança, inclusive no Parlamento argentino.

A tensão entre os dois presidentes acontece pouco depois de que viera à tona o escândalo pela fuga de bolsonaristas envolvidos nos atos de 8 de janeiro para a Argentina. O caso preocupa o governo brasileiro, que acompanha de perto as investigações da Justiça argentina.

(Foto: Reprodução)

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