Depois de receber a faixa presidencial, Milei discursa do lado de fora do Congresso, afirma que recebeu a ‘pior herança de um governo na história’ e promete lutar contra a inflação
Recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei (La Libertad Avanza), disse em seu discurso inaugural a apoiadores, das escadarias do Congresso Nacional, no fim da manhã deste domingo (10), que o País inicia uma nova fase, caracterizada pela ruptura das últimas décadas de declínio e pelo ponto de partida para a reconstrução. “Hoje começa uma nova era na Argentina. Hoje damos por terminada uma longa e triste história de decadência e começamos o caminho de reconstrução do país”, afirmou o presidente.
Em um discurso que se estendeu por cerca de 30 minutos, Milei enfatizou a vontade expressa pelos argentinos por “mudança que já não tem retorno”, apontando para o “décadas de fracasso e disputas sem sentido”. Contudo, alertou a população sobre a necessidade de paciência diante do desafiador ajuste fiscal que se avizinha. “Não há alternativa possível que não seja o ajuste. Logicamente isso vai impactar no nível de atividade, emprego, salários reais e na quantidade de pobres e indigentes. Haverá inflação, é certo. Mas não é algo diferente do que ocorreu nos últimos 12 anos”, disse.
“Há mais de uma década vivemos com essa inflação. Esse será o último momento ruim para começar a reconstrução da Argentina”, disse ele. “Depois desse ajuste macro que vamos impulsionar, a situação começará a melhorar. Haverá luz no final do túnel”, enfatizou.
Milei apontou o setor público como foco principal do ajuste da economia argentina: “a única possibilidade é o ajuste. Um ajuste organizado, que entrará com força sob o Estado e não no setor privado. Sabemos que será duro”, falou. Ele também destacou que nenhum governo precedente enfrentou uma situação tão crítica quanto a atual, enfatizando a ausência de recursos financeiros. “Muito se fala da herança que vamos receber. Nenhum governo recebeu uma situação pior do que estamos recebendo.”
“Vou dizer isso de uma vez: não há dinheiro”, afirmou Milei. “Não há alternativas ao ajuste e ao choque. Naturalmente vai afetar o nível de emprego e de pobres e Miseráveis, nas nada diferente do que aconteceu nos últimos 12 anos. É um primeiro gole amargo para começarmos a reconstrução da Argentina.”
“Em todas as esferas, a situação da Argentina é de emergência”, alertou Milei, destacando a necessidade de ações imediatas para superar os desafios. O presidente reconheceu a dificuldade a curto prazo, mas expressou confiança de que os esforços resultarão em um crescimento sólido e sustentável. “Sabemos que nem tudo está perdido. Os desafios que temos são enormes. Mas temos capacidade para superá-los. Não será fácil, 100 anos de fracasso não se desfazem em um único dia. Mas começam em um dia e hoje é esse dia”, afirmou Milei.
No término do discurso, o presidente recém-empossado tranquilizou a população ao afirmar que não perseguirá opositores e se mostrou aberto ao diálogo com dirigentes políticos e sindicais. “A todos os dirigentes políticos e sindicais, nós os receberemos com braços abertos”, disse. Após o pronunciamento, Milei seguiu em carro aberto para a Casa Rosada, onde recebeu líderes estrangeiros, entre eles o rei da Espanha, os presidentes de Paraguai, Armênia, Uruguai, Chile, Equador, Ucrânia e, depois, o primeiro-ministro da Hungria.
Além disso, participaram da posse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky; o presidente da Armênia, Vahagn Khachaturyan; o presidente do Chile, Gabriel Boric; o rei da Espanha, Filipe 6 ; o presidente do Paraguai, Santiago Peña; o presidente do Uruguail, Luis Alberto Lacalle; o presidente do Equador; Pou Daniel Noboa e primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não compareceu à posse, enviando o chanceler Mauro Vieira como representante do Brasil no evento. O ex-presidente Jair Bolsonaro também compareceu ao evento. Ele estava acompanhado de Michelle Bolsonaro, do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e também de seu assessor Fabio Wajngarten.
(Foto: Luis Robayo/AFP)