Mercado de trabalho melhora, mas igualdade de gênero ainda é uma meta distante, mostra Dieese

Levantamento mostra que taxa de desemprego entre as mulheres caiu de 9,8% para 9,2% entre 2022 e 2023. Mas, elas são a maioria dos desempregados, 54,3%, das quais 35,5% são negras

 

O mercado de trabalho teve melhoras em 2023, atingindo todos os setores, mas a inserção da mão de obra feminina segue sendo um desafio. As mulheres têm taxa de desemprego mais elevadas – embora tenham diminuído – e menores salários. Entre os quartos trimestres de 2022 e 2023, a taxa de desemprego feminino diminuiu de 9,8% para 9,2%. Ainda assim, elas representavam a maioria nesse grupo, 54,3% — das quais 35,5% eram negras e 18,9%, não negras.

Os dados fazem parte de boletim especial do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos), focado na realidade feminina, lançado na quinta-feira (7), por ocasião do Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira (8).  Com base nessas informações, é possível perceber a força que ainda tem, na sociedade brasileira, o recorte de gênero e de raça no mercado de trabalho, explicitando que o machismo e o racismo estrutural ditam as regras.

De acordo com o Dieese, no quarto trimestre de 2023, havia 2,865 milhões de mulheres negras desempregadas — uma taxa de 11,1%. Já as não negras nessa situação totalizaram 1,526 milhão, o equivalente a 7%. Ainda no universo da população desocupada — nomenclatura usada pelo Dieese —, o período analisado em 2023 apontava para um total de 66, 286 milhões de pessoas nessa situação, das quais 64,6% (42,839 milhões) eram mulheres.

“Entre o 4º trimestre de 2022 e o de 2023, houve aumento de 358 mil mulheres e 26 mil homens fora da força de trabalho, um indicador da dificuldade de inserção e permanência que elas enfrentam no mercado de trabalho”, diz o relatório.

O Dieese observa, ainda, o peso que a pandemia teve sobre as mulheres, para o seu retorno ao mercado de trabalho. “Enquanto a participação dos homens voltou ao nível anterior à crise sanitária, elas sentiram mais dificuldades para voltar ao mercado de trabalho e enfrentaram taxas de desemprego mais altas”, aponta.

Durante a pandemia, completa, “algumas mulheres assumiram tarefas adicionais nos domicílios (como o cuidado de outras pessoas). Outras perderam postos de trabalho em atividades mais afetadas pela crise (comércio, restaurantes e serviços) e, mesmo com a retomada da economia, muitas ainda não conseguiram se recolocar”.

O estudo salienta, ainda, que quanto à mão de obra subutilizada — que comporta pessoas que trabalham menos horas do que gostariam —, a maioria é formada por mulheres negras, 7,3%, seguida pelos homens negros, 5%. Para as não negras, a taxa ficou em 4,8% e para os homens não negros, em 3,1%.

As diferenças também ficam patentes quando analisado o valor recebido pelas trabalhadoras. O rendimento médio mensal das mulheres (R$ 2.562) no 4º trimestre de 2023 foi 22,3% menor do que o recebido pelos homens (R$ 3.323). “Entre todas as ocupadas, 39,9% recebiam no máximo um salário mínimo e, entre as negras, metade ganhava até esse valor (49,4%), enquanto essa proporção era de 29,1% entre as não negras e de 29,8% entre os homens. Já entre aqueles que terminaram o ensino superior, elas ganhavam, em média, R$ 4.701, 35,5% a menos do que eles (R$ 7.283)”, explica o estudo.

No nível das chefias, o estudo mostra que, no quarto trimestre do ano passado, quatro em cada dez pessoas ocupadas como diretoras ou gerentes eram mulheres e estas recebiam quase 30% menos do que os homens (R$ 5,9 mil X R$ 8.363). Esses números, avalia o Dieese, “refletem os preconceitos e desigualdades existentes no mercado de trabalho brasileiro: a dificuldade de se aceitar que mulheres possam comandar; a discriminação e o assédio sofridos pelas trabalhadoras, o que prejudica a permanência delas nos postos de trabalho”.

Somam-se a isso  “os problemas para conciliar os afazeres domésticos e as atividades profissionais — enquanto as mulheres ocupadas dedicavam, em média, quase 17 horas semanais com afazeres da casa e relacionados às famílias, em 2022, os homens dispensavam em média 11 horas nessas atividades; os obstáculos enfrentados para conseguir creches para os filhos; a necessidade de participar de cursos fora da jornada de trabalho, entre tantos outros”.

Por outro lado, o Dieese destaca a importância da política de valorização do salário mínimo, retomada pelo governo Lula, e o crescimento dos empregos, “que fizeram com que as proporções de ocupados com rendimento de até um salário diminuíssem entre o 4º trimestre de 2022 e o de 2023, independentemente de sexo e raça/cor dos trabalhadores”.

(Foto: Reprodução)

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